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Brasil, Canadá e Bangladesh: há semelhança? (Eduardo Fernandez Silva)

Tão distintos, e tão parecidos! Pela maioria dos indicadores usuais – PIB e seu crescimento, IDH, esperança de vida e mortalidade infantil

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Moradores de rua e a dura realidade da pobreza e miséria na pandemia da COVID 19
1 de 1 Moradores de rua e a dura realidade da pobreza e miséria na pandemia da COVID 19 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles.

Tão distintos, e tão parecidos! Pela maioria dos indicadores usuais – PIB e seu crescimento, IDH, esperança de vida, mortalidade infantil, etc. -, as regiões do título são muito diferentes uma da outra. No entanto, nessa nova era em que estamos, tornam-se cada vez mais semelhantes. O “desenvolvimento econômico” é o grande responsável por essa aproximação.

Por muitos anos, aqueles treinados em economia, como eu, foram instruídos na noção de que o dito “desenvolvimento econômico” traria, em síntese, mais e rica homogeneidade global! Por conseguinte, todos buscavam facilitar tal processo. A promessa era que o “desenvolvimento” traria melhorias no padrão de vida de todos. Em suma, a felicidade geral!

A ideia de buscar o desenvolvimento continua a ser perseguida por governantes à direita e a esquerda. E aonde essa busca nos tem levado?

No Canadá, em região não distante de Vancouver, restos carbonizados de árvores caem ao solo ao serem tocados, e esqueletos de postos de gasolina demonstram a ferocidade das queimadas ali ocorridas, cuja fumaça chegou à Baltimore, Barcelona, Berlim e além. Os incêndios queimaram área maior que Flórida e lançaram na atmosfera quase três vezes as emissões anuais do país!

Em Bangladesh, a água salobra “está em nossos rios e em nossas xícaras”, dizem habitantes de áreas costeiras, muitos dos quais, sem alternativa, cozinham com água contaminada, e em seguida sofrem doenças renais e outras! Uma estação de tratamento de água, construída em 2005 com a promessa de melhorar a vida de muitos e criar “emprego e renda”, está abandonada há anos, devido a custo elevado e brigas políticas. Apesar de privatizada, a unidade segue inoperante. A terceira maior cidade do pais, Khulna, já foi um centro de “desenvolvimento”, com moinhos, pujante indústria de pesca, estaleiros e outras atividades geradores de “emprego e renda”. Cheias frequentes, ciclones e ressacas marítimas deprimiram as fontes de água potável, com a intrusão de água do mar comprometendo a disponibilidade de água doce e as demais atividades.

Só na Europa, existem 1.200 barragens impedindo a migração de peixes. Estudo recente estima, desse 1970, mundialmente, uma queda de 80% – repita-se, 80%! – na população de peixes migratórios! A queda é ainda maior na América do Sul e no Caribe! Não apenas as barragens causam tal exaustão: também a poluição, o desvio das águas dos rios e a pesca predatória são responsáveis. Vale dizer, o “desenvolvimento econômico”!

No Rio Grande do Sul, ainda mais grave é a situação de mais de meio milhão de brasileiros; isso, num estado até recentemente tido como dos mais “desenvolvidos” do nosso país!!

E assim, de “desenvolvimento” em “desenvolvimento”, vamos criando desastres e comprometendo, mundo afora, as chances de nossos filhos e netos terem vidas saudáveis, com segurança.

No RGS, mais que “reconstruir”, é hora de construir de maneira diferente, tornando-se exemplo para toda a aldeia global, cujos habitantes estão, cada vez mais, ameaçados pelo “desenvolvimento”.

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex- Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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