Brasil: a vez dos minerais críticos e estratégicos (por Felipe Sampaio
A transição energética em larga escala
atualizado
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A má notícia é que a mudança climática segue desgovernada. No centro do debate está a transição energética em larga escala, que minimize o aquecimento global a tempo de adiarmos o juízo final.
A boa notícia é que não há mal que não traga um bem. Essa urgência em substituir a matriz de energia não renovável abre também oportunidades para uma economia sustentável baseada em novos materiais e inovações tecnológicas.
Apesar de tratada como ovelha negra do capitalismo, no fim das contas a mineração será mais uma vez o vetor do salto de qualidade dos modelos produtivos, como vem ocorrendo nos últimos trezentos anos, dessa vez ancorada em princípios ESG (sigla em inglês para os pilares ambiental, social e governança).
Nas palavras de Raul Jungmann, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), “a produção de minérios se torna mais importante para estabelecer uma condição de segurança mineral e de soberania nacional […] para desenvolvermos tecnologia e equipamentos voltados a mitigar a emergência climática”.
No centro dessas inovações, as mineradoras que atuam no Brasil voltam suas atenções para os minerais críticos e estratégicos. Dentre eles, os velhos conhecidos da indústria e do agronegócio, como ferro, manganês, cobre, fosfato e potássio, devido à sua importância para a soberania econômica do País.
Ao mesmo tempo, despontam minerais como o lítio, nióbio, vanádio, cobalto, grafite e os denominados terras raras, entre outros. Não é à toa que alguns desses materiais são conhecidos como ‘minerais de transição energética’. Afinal, são utilizados como matéria prima para os negócios do futuro, a indústria aeroespacial, sistemas de Defesa, fabricação de baterias para celulares ou veículos elétricos, e ainda na produção de energia eólica, solar e nuclear.
Por isso, merece destaque o estudo sem precedentes produzido pelo IBRAM: “Fundamentos Para Políticas Públicas em Minerais Críticos e Estratégicos Para o Brasil”. Afinal, a entidade representa as maiores mineradoras que atuam no Brasil. O trabalho foi realizado em conjunto com o Centro de Tecnologia Mineral, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Reúne um panorama do mercado internacional de minerais críticos e estratégicos, as tendências associadas à transição energética, as vantagens do Brasil e os nossos desafios relacionados com a implementação de políticas de fomento, infraestrutura e legislação.
Entre os atrativos apresentados, estão os gráficos da União Europeia prevendo o aumento no ‘consumo de materiais críticos’ até 2050: 55 vezes para o lítio, 15 vezes para o cobalto e 12 vezes para o grafite. Não é de agora que os minerais críticos e estratégicos recebem atenção especial nos planos de países europeus, EUA, Japão, Coreia do Sul, China, Índia. Constam também em documentos de organismos multilaterais e até mesmo do setor de Defesa.
No Brasil, o assunto é citado em alguns instrumentos como a Política Mineral Brasileira e a Política Pró-Minerais Estratégicos. O Ministério de Minas e Energia aponta que o Brasil possui a 3ª maior reserva de terras raras do mundo, ao lado da Rússia e abaixo da China e Vietnam.
Nesse cenário, é oportuno que o Brasil também disponha do seu planejamento para o tema, como recomenda o estudo do IBRAM. Com um olho no ESG e outro no novo normal dos negócios, Jungmann antevê não só a expansão da mineração brasileira, mas, também, a atração de grandes volumes de investimentos e a vinda de outros segmentos industriais, a partir da maior oferta de minérios.
Felipe Sampaio: cofundador do Centro Soberania e Clima; chefiou a assessoria especial do ministro da Defesa; dirigiu o sistema de estatísticas no ministério da Justiça; foi secretário executivo de segurança urbana do Recife; atuou no setor privado; é assessor no ministério do Empreendedorismo.