Boric, Lula, Bolsonaro: novos sinais sopram do Chile (por Vitor Hugo)
Sinais de comportamento e de fala que repercutem no Brasil, a caminho de eleições do ano que vem
atualizado
Compartilhar notícia
Partiu de Gabriel Boric, eleito no Chile, domingo 19, com 55% dos votos válidos, – ex-líder estudantil, 35 anos, fã dos roqueiros K-Pop e Taylor Swift, com tatuagens no braço e anunciando investimentos maciços na área Cultura, depois de ter recebido menos votos que o ultra direitista José Antonio Kast, no primeiro turno – o grito inesperado e cheio de signos políticos e de comunicação que vem dos novos ares que sopram de Santiago, ao pé da Cordilheira dos Andes. Sinais de comportamento e de fala que repercutem no Brasil, a caminho de eleições do ano que vem: “Sou da Patagônia Austral, onde começa o mundo e onde se fundem todos os contos e o imaginário do planeta, no Estreito de Magalhães, que inspirou tantos romances” disse Boric, ao comemorar a chegada ao mando, como mais jovem mandatário da história de seu País. Sinalização que vale para Lula, Bolsonaro, Moro, Miro, Dória, Simone…
E não ficam nisso os sinais andinos merecedores de atenção na campanha brasileira. A começar pelo líder nas pesquisas, ex-presidente Lula, que, domingo mesmo fazia discurso na base do “já ganhou”, – na eleição que ainda se dará em 2 de outubro de 2022 – em jantar com o tucano Geraldo Alckmin, em São Paulo. Outro sinal do vitorioso chileno, depois da larga caminhada pelas ruas e palanques de todas as regiões: ”Vou ser presidente de todos os chilenos. Acho importante ter interlocução com todos e os acordos devem ser entre todas as pessoas e não entre quatro paredes”, disse Boric, que chega limpo, solteiro e sem amarras aparentes ao comando da nação andina.
Mal (ou bem?) comparando, o jovem presidente eleito parece saído das páginas do livro autobiográfico do poeta Nobel de Literatura, Pablo Neruda, “Confesso que Viví”. Em particular no capítulo em que o poeta fala das mudanças em seu destino e na sua obra, a partir de seu ingresso na política, quando foi eleito senador. Á política veio como um trovão desviar-me dos meus trabalhos. Regressei uma vez mais à multidão. A multidão humana foi a maior lição da minha vida… Solidão e multidão: Na solidão, a minha vida enriqueceu-se com a batalha da ondulação no litoral chileno, mas aprendi muito mais com a grande maré das vidas, com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo. Esta mensagem pode não ser possível a todos os poetas, mas quem a tenha sentido guarda-la-á no coração e na sua obra. É memorável e desvanecedor para o poeta ter encarnado para muitos homens, durante um minuto, a esperança”.Ponto.
Ex-líder acadêmico, roqueiro que gosta e fala de música, poesia e cultura, seguramente Boric terá bebido desta motivadora inspiração intelectual e política, marcante em seu País e no continente. O jovem presidente eleito, porém, representa uma esquerda renovada e revitalizada, desde os grandes protestos da classe média e baixa sufocada no Chile, endividada, “ para pagar a educação, a saúde e a previdência privada”, como denunciou Boric, nas ruas que agora o consagram.Experiência individual, sim. Mas o exemplo e os signos são continentais. Válidos para candidatos diversos nas presidenciais de 2022 por aqui: de Lula a Bolsonaro, de Moro a Ciro, de Dória a Tebet e Pacheco. É como ensina Paulinho da Viola em seu samba: “As coisas estão no mudo, só que é preciso aprender”. BOM NATAL PARA TODOS!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail:vitors.h@uol.com.br