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Bolsonaro -Putin: ida e volta à terra dos Karamazov (por Vitor Hugo)

O mandatário viaja em rotas de risco, sem dar bolas para o azar. Alheio as previsões do tempo, alertas e signos de poder

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Bolsonaro chega em aeroporto em Moscou, Rússia. Ele está acompanhado de comitiva e soldados russos o recebem logo a frente do avião presidencial. Todos usam roupas de frio - Metrópoles
1 de 1 Bolsonaro chega em aeroporto em Moscou, Rússia. Ele está acompanhado de comitiva e soldados russos o recebem logo a frente do avião presidencial. Todos usam roupas de frio - Metrópoles - Foto: Valdenio Vieira/PR

A memória recua no tempo, enquanto Jair Bolsonaro, atual dono do poder na República de Pindorama (no dizer de Arnaldo Jabor, premiado cineasta, cronista da TV, jornalista e crítico cultural que o país acaba de perder), embarca na noite do dia 14, com destino à Rússia. Nação em pé de guerra fria com os Estados Unidos e países da OTAN na Europa, na crescente escalada de tensão geopolítica e bélica que transtorna ainda mais o mundo, às voltas com a pandemia da Covid 19, que segue expansiva e letal.

O mandatário viaja em rotas de risco, sem dar bolas para o azar. Alheio as previsões do tempo, alertas e signos de poder emanados de diferentes líderes e países, sobre a impropriedade e irrelevância da viagem do chefe de estado a Moscou e Budapeste, em dias pandêmicos e do rastilho de pólvora, movimentação de tropas, tanques e armas pesadas na região. Além da guerra cibernética de informações (já em curso) . em torno da estratégica Ucrânia. Mesmo com a alegação de ser visita por interesses mútuos de acordos comerciais e tecnológicos, em especial aos ligados ao agronegócio, marcada há muito tempo. Na real, porém, tanto na Rússia, de Putin, quanto na Hungria de Victor Orbán, o que ficou patente – para o Brasil e para o mundo – foram as afinidades eletivas do ocupante do Palácio do Planalto com dois líderes sectários, provocadores e ultradireitistas da política mundial.

Sobram dúvidas no longo caminho de ida e volta do governante brasileiro e sua comitiva. Uma delas, a razão desta nova demonstração de insensibilidade psicológica, falta de preocupação e de compromisso de chefe de estado com a própria segurança e dos auxiliares de primeiro escalão e demais acompanhantes. À exemplo do filho “zero dois”, vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro – de poderes reforçados na campanha de reeleição do pai via redes sociais – a participação dele não explicada na comitiva presidencial à Rússia, país que a Polícia Federal e a justiça eleitoral suspeitam (por inúmeros indícios desde as campanhas de Trump, nos Estados Unidos), ser o abrigo dos chefes das milícias cibernéticas do grupo Telegram, como ficou evidente na reunião preparatória de transição de poder no TSE, entre os ministro Luis Roberto Barroso, Luiz Fachin e Alexandre de Moraes, membros do STF.

Recolho-me, então, à releitura de capítulos seletos de romances de grandes autores da literatura russa, repleta de personagens antológicos, destituídos de razoabilidade, de senso comum e de sentimentos éticos e morais, a exemplo dos trágicos, dramáticos – cômicos também – seres que povoam livros de Gorki e Dostoievski. Silencio comovido diante das imagens do velório de Jabor, no Museu de Arte Moderna do Rio e das mais de 130 mortes já confirmadas da nova “tragédia das chuvas” em Petrópolis, a cidade de repouso de soberanos e membros da Corte no século XIX.

Enquanto o presidente de Pindorama (grande Jabor) de volta da viagem aos desvãos da terra da família Karamazov, no célebre romance de Fiodor Dostoievski, visita Petrópolis, a antiga bucólica “cidade imperial” mais uma vez coberta de lama que esconde cadáveres ainda não resgatados.Lembro, por fim, do irônico turista francês que, de passagem dia 16, pela Praça Vermelha, em frente ao Kremlin, de B olsonaro em juras de “Paz na Terra” com Putin, terá murmurado com os seus botões: “Amaldiçoado seja aquele que pensar mal destas coisas”.

 

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br

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