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Bem além do provincianismo (por Marcos Magalhães)

Eleições para presidente dos Estados Unidos

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1 de 1 Imagem colorida de Kamala e Trump - Metrópoles - Foto: Arte Metrópoles

Enquanto analistas políticos desenham cenários para 2026, com base nas eleições municipais, outros cálculos feitos ao redor do planeta indicam a magnitude das mudanças que poderão sacudir o mundo bem antes de janeiro de 2027, quando toma posse a próxima pessoa eleita para governar o Brasil.

Esses cálculos referem-se sobretudo às eleições para presidente dos Estados Unidos, marcadas para o dia 5 de novembro. Será uma terça-feira de muitas emoções – talvez mais ainda que o dia das últimas eleições americanas.

Há quatro anos, Donald Trump perdeu para Joe Biden nos detalhes – e não aceitou o resultado. Ele foi no mínimo simpático à invasão do Capitólio por manifestantes da extrema-direita dispostos a garantir, na marra, a posse de seu líder derrotado.

O tempo passou, Biden desistiu de buscar novo mandato e a sua vice, Kamala Harris, será o rosto negro e feminino do Partido Democrata em uma das eleições mais importantes da história recente.

E por que tão importante? A começar pelas próprias eleições. Trump ameaça, desde já, liderar uma revolta caso seu nome não seja consagrado nas urnas. Basta prestar atenção a suas expressões faciais, nos últimos comícios, para perceber que ele vem com sangue nos olhos, depois da última derrota.

Muitos observadores ocidentais temem não apenas a repetição dos terríveis fatos de quatro anos atrás, mas também respingos sobre a democracia. Ou seja, por incrível que possa parecer, há quem tema pelo futuro do sistema político liberal dos Estados Unidos.

Muitos analistas políticos americanos já perderam o medo, por exemplo, de chamar Donald Trump pelo que ele, aos olhos de muitos, indica ser: um neofascista.

As feições de Trump nos palanques também ajudam a identificar uma enorme dose de patriotismo, que seria a base política para a adoção de medidas ultra protecionistas por seu possível novo governo. Algo como tarifas de importação elevadas em até 10 pontos percentuais, para proteger a economia americana.

Esse populismo se repete quando o tema é energia. Há poucos dias, durante comício na cidade de Erie, de 93 mil habitantes, no estado da Pennsylvania, ele prometeu reduzir em até 50% os custos de energia. Como? Para começar, acabando com o programa de estímulos aos carros elétricos.

E, claro, apoiando o aumento da produção de petróleo, inclusive no frágil ambiente do Alasca – onde, segundo o candidato, pode haver tanto óleo como na Arábia Saudita. “Vamos abastecer toda a Ásia com óleo e gás”, anunciou Trump.

Por fim, o mundo aguarda com ansiedade as posições a serem tomadas por ele em relação a dois conflitos com potencial de ampliação: os da Ucrânia e do Oriente Médio. Lideranças de várias partes do mundo prendem a respiração à espera do que Washington poderá vir a fazer nas duas guerras que colocam em risco a já frágil ordem global.

Ou seja, a possível eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos deverá trazer consigo várias ondas de instabilidade e de imprevisibilidade. Da geopolítica ao comércio global, da ordem liberal à desordem climática.

Entre as poucas certezas de seu possível novo mandato está o desprezo por políticas ambientais. Trump não está nem aí para a tão anunciada crise climática. Ele se preocupa mais com o preço da gasolina no interior da Pennsylvania.

É nesse mundo incerto que pode vir a tomar posse a pessoa a ser eleita (ou reeleita) em outubro de 2026 para presidente do Brasil. Não vai haver céu de brigadeiro, até porque, além das definições internas nos Estados Unidos, existe uma competição cada vez mais acirrada entre o país que ainda detém a maior economia do mundo e a China.

Assim como reemerge no cenário bem pós-guerra fria a rivalidade militar entre os Estados Unidos e a Rússia, que pode ganhar contornos mais preocupantes de acordo com o desfecho do atual conflito na Ucrânia.

Então, está tudo muito bom, os partidos brasileiros já traçam cenários de frentes e coalizões para chegar ao Palácio do Planalto. Está tudo muito bem, uma nova safra de lideranças, ainda incipiente, terá tempo para montar suas propostas para o futuro do país.

Mas, realmente, nada disso será suficiente, nem de longe, para que as lideranças políticas brasileiras se atualizem diante de um cenário tão desafiador. Em outras palavras, o Brasil precisará enxergar muito além do que permite seu atual provincianismo.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.
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