Basta, Maduro! (por Cristovam Buarque)

As guerras começam com discursos que provocam escaramuças em fronteiras e logo soldados estão morrendo, cidades sendo bombardeadas, governos sufocados em dívidas para comprar armas, o povo massacrado por necessidade ou inflação, os conflitos espalhados porque não há mais guerras locais; depois de iniciadas, eles mobilizam forças globais divididas ideológica, social e militarmente, como se o planeta fosse um campo de batalha de uma humanidade partida.

O Brasil precisa dizer “Basta, Maduro”. Antes que seja tarde. Esta deve ser a fala do presidente, de cada senador ou deputado, do povo inteiro.

Diante dos riscos de uma guerra, as chamadas forças progressistas não podem se submeter à tentação ideológica de achar que o governo Maduro representaria lado progressista na geopolítica mundial. Ele está sendo colonialista ao querer se apropriar de parte do território de outro país; populista por tentar unificar os eleitores da Venezuela com discurso de ilusões; promovendo o ódio entre povos ao ensinar às crianças um mapa que invade a geografia de país vizinho. E engole nosso Amapá dentro do novo mapa venezuelanno.

Se imitado, a Bolívia fará um mapa com pedaço do Brasil e do Chile, o Equador com pedaço do Peru, a Colômbia com pedaço da Venezuela, o México com pedaço dos Estados Unidos, o Uruguai e o Paraguai com partes do Brasil. Ao recusar acordos internacionais e enterrar a diplomacia, talvez com armas, o senhor Maduro desorganiza as bases que sustém as fronteiras no continente latino americano, cujas disputas existem, mas devem ser dirimidas pela diplomacia e a jurisprudência, não por beligerância de política demagógica ou por devastação militar.

O presidente Lula tem a obrigação de liderar a manutenção da paz no continente, gritando em nome do Brasil: “Basta, Maduro”.

 

(Cristovam Buarque, ex-presidente da Comissão de Relações Internacionais e Defesa Nacional fo Senado, ex-professor do Instituto Rio Branco.)