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Balsa de garimpeiros no Madeira são prova da complacência de Bolsonaro

Passou da hora de o presidente da República acordar

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Greenpeace
Centenas de balsas atracaram no Rio Madeira
1 de 1 Centenas de balsas atracaram no Rio Madeira - Foto: Greenpeace

Editorial de O Globo (26/11/2021)

O vice-presidente Hamilton Mourão, chefe do Conselho Nacional da Amazônia Legal, reconheceu na terça-feira que não houve integração entre as Forças Armadas e os órgãos de fiscalização ambiental (Ibama e ICMBio) no combate ao desmatamento da Amazônia. Indagado sobre as causas, explicou que o poder de decisão está com o presidente e os ministros. É, portanto, Jair Bolsonaro quem deve explicações sobre a inação, ao longo de quase duas semanas, das instituições federais responsáveis por manter a lei e a ordem diante das imagens de balsas e dragas de garimpeiros ilegais ancoradas no Rio Madeira.

Que ninguém se engane com a operação que Polícia Federal e Marinha agora prometem realizar. Mesmo que ela enfim aconteça, o governo Bolsonaro continua devendo respostas: por que as milícias de garimpeiros que devastam os rios em busca de ouro e mantêm ligações com o narcotráfico não foram alvo imediato de ação repressiva? A desculpa de que as embarcações estão dispersas pela vastidão da Amazônia não tem cabimento, como comprovam as fotos que chocaram os brasileiros e tornaram o país alvo de chacota. Por que Bolsonaro não promove investigações contra os líderes dessas organizações criminosas, muitos ex-policiais, muitos ligados à política local?

Há, nas palavras ditas à GloboNews pelo ex-ministro do Meio Ambiente e deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ), enorme “distância entre intenção e gesto” das autoridades. “O gesto é este: o governo estimula armas, acoberta milícias, compactua com o desmatamento”, disse Minc. “A Amazônia está entregue: rios contaminados, verde desmatado e ouro indo lá para fora.” Os rios são contaminados com mercúrio e produtos químicos. Servem de corredor ao tráfico de drogas, como o próprio Mourão admitiu. Garimpeiros invadem terras indígenas e desmatam áreas de proteção. A maior parte do ouro é contrabandeada. Grupos à margem da lei ganham cada vez mais força.

Ainda que o Brasil não estivesse comprometido com o combate às mudanças climáticas, a preservação da biodiversidade ou o direito dos indígenas, não faz sentido transformar, de forma deliberada, a região da floresta em terra sem limites para bandidos. A não ser que se acredite na ideia bisonha de que é preciso ocupar e destruir a Amazônia para garantir a soberania do território.

Passou da hora de Bolsonaro acordar. Ele precisa dar sinais inequívocos de que deixará de acobertar os crimes praticados à luz do dia, de forma escancarada e provocativa, por garimpeiros. Para medir se haverá avanço, a opinião pública precisa ficar atenta. É provável que policiais e navios da Marinha cheguem à região. As imagens serão fartamente exploradas. Mas o verdadeiro parâmetro serão as investigações, indiciamentos e prisões não só no Madeira, mas nas grandes cidades da região e em Manaus, onde vivem e atuam as lideranças. No começo de 2022, valerá a pena conferir quantas balsas apreendidas estarão fora de ação. Em caso de impunidade, não se poderá culpar o vice-presidente apenas. O responsável será, principalmente, o chefe dele.

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