metropoles.com

Até hoje, o apocalipse foi desmentido 100% das vezes (por João Miguel)

A tinta verde derramada sobre o Cordeiro é um banho lustral, que ajuda a limpar os pecados do mundo

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
ANDRZEJ WOJCICKI/SCIENCE PHOTO LIBRARY
1 de 1 ANDRZEJ WOJCICKI/SCIENCE PHOTO LIBRARY - Foto: null

Queria começar por descansar as jovens ambientalistas que acham que vão ver o mundo entrar em colapso durante as suas vidas: não vão. Podem voltar a respirar. Sim, o planeta está a aquecer. Sim, a acção humana está relacionada com isso. E, sim, temos de poluir menos, consumir menos, reciclar mais. Mas nada – repito: nada – indica que as meninas que lançam tinta verde a ministros ou sopa de tomate a pinturas estejam impedidas de um dia vir a brincar com os seus netos. E agora que cheguei aos 50 anos, permitam-me um conselho de velho: todos os discursos apocalípticos tendem invariavelmente para o ridículo. A razão é muito simples: foram desmentidos 100% das vezes.

Dir-me-ão que as alterações climáticas são um desafio como a humanidade nunca enfrentou antes. Será? Se andassem por cá no tempo da “peste negra”, tenho dúvidas que pensassem assim: estima-se que ela terá dizimado pelo menos um terço da população europeia no século XIV. Todos precisamos de um sentido para as nossas vidas, e por isso é natural que cada um de nós acredite que algo de absolutamente decisivo está em jogo na sua geração. A ideia de que a civilização como a conhecemos vai acabar, e que a culpa dessa tragédia incide sobre nós, parece, à primeira vista, desprovida de consolo. Mas não é. Ela tem um poder escondido extraordinário – transforma-nos em very important people à escala planetária.

Somos a plateia VIP do Armagedão. Reparem naquilo que os ambientalistas mais fervorosos nos dizem: temos, como os deuses de Homero, o destino do planeta Terra nas nossas mãos. É um poder destruidor? Com certeza. Mas é um superpoder. Significa que nós contamos. Fazemos a diferença. Não estamos condenados a ser aquilo que foram os nossos pais, avós e trisavós – simples pó da História.

A tinta verde derramada sobre o Cordeiro é um banho lustral, que ajuda a limpar os pecados do mundo. Estes discursos apocalípticos e milenaristas são uma constante ao longo dos tempos, e com isto não estou a negar o problema das alterações climáticas – estou a sublinhar, isso sim, a nossa absoluta incapacidade de prever o futuro, o que nos convida à modéstia no que diz respeito aos excessos de fatalismo.

A História é um cemitério de previsões tontas

Em 1798, Thomas Malthus lançou o famoso Ensaio sobre o Princípio da População, que demonstrava com inabalável certeza que a melhoria das condições de vida iria conduzir a um crescimento insustentável da população, que, por sua vez, daria origem a fomes, guerras e à miséria generalizada. Os argumentos eram tão convincentes que as teses malthusianas atravessaram todo o século XIX. Em 1800, a população mundial rondava os mil milhões de pessoas. Hoje vai a caminho dos oito mil milhões. E, no entanto, a percentagem de população com fome nunca foi tão baixa. Malthus enganou-se não porque não soubesse fazer contas (é o pai da demografia e influenciou economistas respeitáveis), mas porque foi incapaz de prever tudo aquilo que o futuro traria: novas terras, novas tecnologias, fertilizantes, o brain power da espécie humana e a sua infinita capacidade de inovação, que fez disparar a produção alimentar.

A História é um cemitério de previsões tontas. Um exemplo entre milhares: há 20 anos, um relatório secreto do Pentágono afirmava que por volta de 2020 – cito um artigo do The Guardian de 2004 – “grandes cidades europeias estariam abaixo do nível do mar e a Grã-Bretanha mergulhada num clima siberiano”. Preocupação com o clima? Com certeza. Histeria e tinta verde? É de evitar.

(Transcrito do PÚBLICO)

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?