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Assunção de Marias, Margaridas, Marielles, Mães Bernadetes (por Chico Alencar)

Não é admissível tamanha cumplicidade das autoridades com a mortandade!

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Imagem colorida da Líder Quilombola Maria Bernadete Pacífico, morta a tiros na Bahia
1 de 1 Imagem colorida da Líder Quilombola Maria Bernadete Pacífico, morta a tiros na Bahia - Foto: Conaq

A liturgia católica celebra em agosto a Assunção de Nossa Senhora. Sua elevação, sua eternização, vencendo as amarras do tempo, superadas todas as fragilidades da humana condição. Quem não tem essa aspiração?

No Evangelho de Lucas (1, 39-56) a jovem Maria caminha seis dias, da Galileia às montanhas da Judeia, apressada para ver sua prima Isabel, idosa e… grávida!

No encontro, a saudação extasiada de Isabel: “Salve, Maria, você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto de seu ventre!”.

Maria, então, entoa um cântico revolucionário. Louva o Deus que faz maravilhas, que “dispersa os soberbos, derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes, sacia os famintos de bens e despede os ricos de mãos vazias”.

Potente o encontro de Maria e Isabel, gestando Jesus e João. Mães que viveram a dor extrema de perder seus filhos, torturados e mortos pelo poder político e religioso do Império.

Isabel e Maria são precursoras, na sociedade patriarcal, da afirmação das mulheres em sua dignidade. Peregrinas na dor e no amor. Ascendendo do mais doloroso sofrimento à plena e serena libertação.

Maria que é Margarida Alves, Maria também, líder camponesa assassinada há 40 anos. Que ressurge em milhares de margaridas, colorindo a secura do Planalto Central do Brasil a cada 4 anos, como ocorreu na sétima edição do evento. A Marcha é considerada a maior ação política de mulheres em toda a América Latina.

Maria que é franca Marielle, executada covardemente há 5 anos e meio, junto com Anderson. Homicídio político até agora sem mandantes descobertos. Jovens corpos destruídos que viraram sementes de luta e emancipação, contra a brutalidade.

Maria (das Dores) que é Mãe Bernadete Pacífico, ialorixá quilombola, aguerrida promotora da paz e do bem, morta em Simões Filho (BA) com 12 tiros no rosto, em sua casa no terreiro do Quilombo Pitanga dos Palmares (BA), quando estava ao lado de seus três netos.

Crime hediondo que não pode ficar impune, como impune está o que levou seu filho Binho, também quilombola, há 6 anos.

Não é admissível tamanha cumplicidade das autoridades com a mortandade!

Apesar dessas atrocidades, celebremos a saga de tantas mulheres que, ao longo dos séculos, entre lágrimas e alegrias, resistem à barbárie machista, à opressão racista, à dominação sexista.

Elas proclamam a grandeza da vida, de geração em geração. O Deus do Amor, e todos os orixás, e todas as generosas energias as protejam – e à sua descendência de coragem, para sempre!

*Chico Alencar é escritor, professor de História e deputado federal eleito pelo PSOL-RJ

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