As três classes sociais (por Ricardo Guedes)
São três as classes sociais: a alta, a baixa e a média. A classe média é um produto da Revolução Industrial
atualizado
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A história antiga foi caracterizada por duas classes, a dominante e a dominada, com pequenos estratos ao meio em serviços específicos pela aquiescência da classe dominante. Assim foi na Pérsia, no Egito, na Grécia, e em Roma, assim como na Idade Média. A vida nunca foi prazerosa, mas a luta pela sobrevivência. A Revolução Industrial criou um sem-número de grupos funcionais, estruturalmente necessários à nova ordem econômica, como a nova classe média, autônoma, com desejos, com realizações pessoais, com consumo nunca dantes experimentado. Como disse Henry Ford ao ser perguntado sobre quem compraria seus carros, o ultimate símbolo das classes médias, seriam os seus empregados, ou a nova classe média, que ele iria criar.
Marx, em o Manifesto Comunista em 1848, achava que o capitalismo iria levar ao socialismo, devido ao declínio da classe média e aumento da classe trabalhadora, com a socialização dos meios de produção. Em 1851, Marx, em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, na análise da ascensão ao poder de Bonaparte III, deu início à análise política de grupos de interesse, do industrial, do financista, da igreja, da classe média, da burocracia, e demais grupos, cada um agindo de acordo com os seus interesses. Em Das Grundrisse em 1858, Marx coloca em dúvidas alguns dos fundamentos de sua teoria sobre o determinismo histórico do modo de produção, como da passagem do feudalismo para o capitalismo, que teria ocorrido não por contradição entre a maneira de se produzir e a maneira de se apropriar, mas sim pelo crescimento paulatino do mercado. No século XIX, o número dos estratos médios dos artesãos declinou com o crescimento do proletariado, mas a partir de 1900 uma nova classe apareceu, a dos colarinhos brancos. Os trabalhadores manuais se estabilizaram em 25% da população a partir de 1920 em todos os países do mundo, com o crescimento das classes médias. Mas a vida da classe média não tem sido fácil ultimamente, espremida que está na sociedade, conforme o World Inequality Report, no declínio de sua participação no PIB mundial.
Na prática, em uma caricatura, a classe alta quando abonada é liberal, fácil de conceder benefícios. Em dificuldades, vira conservadora. A classe baixa, quando desvalida, é revolucionária. Com o mínimo de necessidades atendidas, vira reivindicatória. A classe média, quando a economia está em crescimento, é um estamento. Quando espremida, como ultimamente, torna-se a base social do fascismo, na busca de regalias a qualquer preço, na aliança com a ala mais radical das classes altas, através da mentira e da violência como instrumentos desestabilizadores.
E assim caminha a humanidade.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus