As pretensões presidenciais de Haddad (por Leonardo Barreto)
O sonho de ser presidente o compromete como ministro?
atualizado
Compartilhar notícia
No aniversário de 1 ano do início da era Lula, o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, em entrevista para a Folha, contou uma história curiosa vivida na transição de governo.
Ao visitar Pedro Malan no gabinete, ele recebeu o convite para sentar-se já na cadeira do ministro. Palocci conta que respondeu “de jeito nenhum” e Malan, rindo, teria dito “sabia que tem gente que senta”?
Na mesma entrevista, feita pelo jornalista Kennedy Alencar, ao falar sobre seus planos políticos, Palocci afirma que não tinha nenhum porquê, para ele, seria “incompatível gerir política econômica sendo candidato”, afinal, ministros da Fazenda não podem “ter objetivos de popularidade”.
Duas décadas depois, outro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anuncia pela TV um aguardado pacote de controle de gastos. A exemplo de 2003, o objetivo principal é conquistar condições de credibilidade, mostrando aos agentes econômicos um forte compromisso com a responsabilidade fiscal.
Haddad, no entanto, fez o contrário do que todos imaginavam que faria. Com jeitão de candidato, deixou as medidas de contenção de lado e anunciou a intenção de cortar impostos de um grupo do eleitorado que é refratário ao governo.
Hoje, entra analistas, ninguém nega que a intenção eleitoral vem na frente de qualquer projeto econômico. É como se diz: “políticos não ganham eleições para implementar planos. Eles traçam planos para ganhar eleições”.
A questão, nesse sentido, é se Haddad, com sua clara intenção de suceder Lula, tem condições para continuar ministro da Fazenda. Ou, em outras palavras, se ele tem ou não desprendimento suficiente para colocar seu cargo à disposição caso o presidente insista em um caminho que ele considere errado.
Talvez o teste definitivo possa se inspirar no “causo” contado por Palocci. Imagine que Lula convide Haddad para uma audiência assim que tenha se recuperado do seu período de convalescência. Lula pareceria aos olhos de Haddad diferente, mais leve e sereno e, ao recebê-lo, apontaria sua cadeira para que o ministro se acomoda-se. Ele se sentaria?
Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política e sócio da consultoria Think Policy.