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As nuvens políticas no Brasil (por Antônio Carlos de Medeiros)

Lula sabe que Haddad é, hoje, o único quadro do PT que tem dimensão nacional para disputar a presidência

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Imagem colorida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Fernando Haddad - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Fernando Haddad - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O presidente Lula prestigiou mais uma vez a sua equipe econômica. Na quarta-feira, autorizou o seu Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a reafirmar compromisso fiscal de Lula e anunciar corte de R$ 25,9 bi no orçamento. O dólar caiu.

Lula sabe que Haddad é, hoje, o único quadro do PT que tem dimensão nacional para disputar a presidência da República em 2026, caso ele (Lula) venha a decidir lá na frente não disputar a reeleição.

Política é como nuvem. Muda toda hora. Nos últimos dias, vimos movimentações de nuvens políticas que precisam ser observadas com atenção. No Brasil, refiro-me a falas recentes do presidente Lula sinalizando que poderá não ser candidato à reeleição em 2026.

Em Política, os sinais e gestuais contém significados muitas vezes tão ou mais importantes do que afirmativas e decisões. Simplesmente porque mexem com as expectativas de poder. Olha aí as expectativas. Sempre elas. São elas que movimentam a Política do Poder Político e a Política do Poder Econômico.

Em ambiente nacional de conjuntura de crise de confiança e desancoragem das expectativas econômicas e políticas, o sinal de Lula de que poderá não ser candidato cria uma expectativa de vácuo que certamente será preenchido rapidamente. Em Política, sabemos, não existe vácuo.

De pronto, o vácuo fragiliza ainda mais a governança e a governabilidade do governo Lula. Na seqüência, poderá antecipar e acelerar disputas políticas pela sucessão presidencial. De qualquer forma, a sucessão está posta.

Com sua decantada intuição e inteligência política, cabe ao presidente Lula se recompor e rearticular para não perder a iniciativa de Agenda, mais do que já perdeu. Já fez isto nesta semana, na quarta-feira, com a reafirmação do seu compromisso fiscal.

Agora, vai buscar protagonismo político nas eleições municipais deste ano. E deverá trabalhar nos bastidores para não ter adversários ferrenhos nas sucessões da Câmara Federal e do Senado da República.

E, lá na frente, qual poderá ser resultante? Disse-me um experiente observador da cena política nacional que Lula está virando para-raios da insatisfação. Por contraste, diz ele, isto pode melhorar o cacife de Fernando Haddad para 2026. Por enquanto, o governo só tem dois candidatos com viabilidade nacional: Lula e Haddad.

Para este mesmo observador, a oposição ainda não tem nenhum candidato com viabilidade nacional. O governador Tarcisio de Freitas está contido em São Paulo. Sem Jair Bolsonaro, e com Tarcisio contido, não tem muita alternativa. “Sobra” o governador Caiado, de Goiás.

O presidente Lula precisa se preservar. Já temos notícias de que os seus companheiros de primeira hora, os chamados “cabeças brancas do PT”, passaram a ser ouvidos por ele. São os que têm lastro político e coragem para divergir dele, apontar erros e sugerir soluções.

Ninguém é infalível. Lula não é infalível. Janan Ganesh, analisando outro dia no Financial Times a saga de Joe Biden e dos democratas nos EUA, e a nova saga do Partido Trabalhista no Reino Unido, referiu-se ao que ele denominou como “a tragédia do negacionismo da esquerda”. Para ele, a esquerda tem “aversão ao conflito com pessoas de ideias semelhantes”.

Vem daí a pertinência de ouvir os “cabeças brancas” do PT. Ganesh lembra que “o teste da seriedade política é confrontar o próprio lado”. Como nos lembrou Chico Buarque no primeiro mandato do próprio Lula, trata-se de ter o “ministério do vai dar merda”.

Maria Cristina Fernandes registrou ontem no Valor que um dos economistas que Lula ouviu na sexta-feira (28 de junho) lhe disse: “É uma questão de poder real. A Presidência tem poder formal, é o mercado que tem poder real”. Não foi o BC independente quem o inventou, lembra Maria Cristina.

Ela lembra também que Belluzzo , presente na mesma reunião, costuma citar Keynes: “As regras autodestrutivas da finança são capazes de apagar o sol e as estrelas porque não pagam dividendos”.

No final da sua coluna desta quinta-feira, Maria Cristina faz um registro relevante, que precisa ser objeto de reflexão de Lula, da sua equipe e do PT: “ao aceitar que o mercado tem um poder contra o qual não tem instrumentos para concorrer, Lula, paradoxalmente, mantém o Brasil no jogo da resistência ao avanço da extrema direita”.

É por isto que Lula precisa se preservar. Em legítima defesa da democracia, o bem maior, razão pela qual foi eleito em 2022.

Assim se locomovem as nuvens políticas no Brasil.

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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