As joias da princesa (por Ricardo Guedes)
Bolsonaro não tem virtude, o elemento que une a ética da pessoa à sua ação, para o bem comum e pessoal na gerência de uma sociedade
atualizado
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“Há algo de podre no Reino da Dinamarca”, na célere frase de Shakespeare em Hamlet, na trama da corrupção, da traição, da usurpação, da violência e da vingança.
Aristóteles nos fala sobre a virtude, que os homens e os governantes deveriam ter, da prudência, da justiça, da temperança e da coragem.
Bolsonaro não tem virtude, o elemento que une a ética da pessoa à sua ação, para o bem comum e pessoal na gerência de uma sociedade.
De 1930 para cá tivemos importantes Presidentes da República, caracterizados, em suas pessoas e ações, de alguma forma, pela virtude do amanhã. Sem falar em D. João VI, que trouxe know-how para o Brasil, institucionalizou o Estado, introduziu a Medicina, o ensino médio, e as Engenharias Civil e Militar. Sem falar em D. Pedro II, que instituiu a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, base de nossas Universidades Federais, a Escola de Minas de Ouro Preto, base de nossa siderurgia e industrialização, que abriu a imigração para os estrangeiros para o trabalho qualificado e maior know-how do país.
De 1930 a 1945, tivemos Getúlio Vargas no Estado Novo, que instituiu as Leis Trabalhistas e o Salário-Mínimo, na formação de um pacto político e econômico entre o capital e o trabalho, lançando as bases do Estado moderno brasileiro. De 1951 a 1954, Getúlio Vargas na presidência, com a criação da Petrobrás, de suma importância no desenvolvimento do país. De 1956 a 1961, Juscelino Kubitschek, com o processo da substituição das importações, lançando as bases de nossa economia moderna. De 1964 a 1985, os Governos Militares, com crescimento econômico e processo de urbanização. Em 1985, Tancredo Neves, na abertura política para a transição democrática. De 1985 a 1989, José Sarney, do Plano Cruzado como base do futuro Plano Real, governando no período da Constituinte de 1987 e 1988. De 1994 a 2002, Fernando Henrique, com o Plano Real que estabiliza a moeda com efeitos redistributivos, a mais significativa reforma macroeconômica na história recente do país. De 2003 a 2010, Lula, com a política de crédito e programas sociais, indo o PIB de US$ 0,5 trilhões para US$ 2,2 trilhões. De 2016 a 2018, Temer, estabilizando a economia com o Teto de Gastos, com o PIB de US$ 1,8 trilhões para US$ 1,9 trilhões. Bolsonaro pega o país com o PIB em US$ 1,9 trilhões em 2018, deixando o Governo com o PIB em US$ 1,6 trilhões em 2021.
Não há virtude no Governo Bolsonaro. Passamos pela contínua tentativa da quebra da ordem institucional, da falta de política ambiental, da falta de política externa, da tentativa de Golpe de Estado em 8 de janeiro deste ano. O episódio da entrada das joias no país, em direto confronto com a Lei, expressa a mais completa falta de virtude. E vindo de então Presidente. Um vexame público, um vexame internacional. Bolsonaro nada deixou, e ainda levou. Como no final de Hamlet, “o resto é silêncio”.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago, CEO da Sensus, e Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro