As Dificuldades do Centro Político em 2022 (por Ricardo Guedes)
O centro político deverá vir fragmentado com Ciro Gomes e o candidato do PSDB, e outros possíveis candidatos de menor representatividade
atualizado
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A se pressupor a normalidade democrática, Bolsonaro, pela direita, dificilmente se reelegerá. Com plataforma política muito radical e tendo errado na condução do Covid, Bolsonaro conta hoje com o apoio de somente ¼ da população, e rejeição de mais de 50%, indicadores não suficientes para sua reeleição. Adicione-se o desempenho pouco significativo da economia, a crise hídrica que se instala, e os indícios de corrupção no Governo na compra da Covaxin apontado pela CPI do Senado.
Pela esquerda, Lula apresenta-se como candidato mais universal nos espectros de centro-esquerda. Lula, em verdade, nunca se constituiu em ameaça à democracia, com o compromisso, através da Carta ao Povo Brasileiro em 2002, da manutenção da economia de mercado e da ordem democrática. Politicamente, o governo Lula demonstrou-se mais próximo da social-democracia europeia do que de líderes populistas de esquerda da América Latina, como Chávez e Maduro.
Durante o governo Lula, o PIB cresceu de US$ 600 bilhões em 2002 para US$ 2,2 trilhões em 2010, com a inclusão de parte da população de baixa renda nas classes médias. Em Pesquisas Nacionais da Sensus, o aspecto distributivo da economia foi identificado. Com a aplicação de 0,5% do PIB em Programas Sociais, o Bolsa Família estimulou as economias locais inserindo o grupo de baixa renda na economia formal, estimulando o emprego e o trabalho, aumentando em mais de 100% a renda familiar dos beneficiados. No Programa de Cisternas na área da Sudene, o agricultor, com mais água, passou a arar e produzir 100% a mais do que anteriormente. O mensalão e a eleição de Dilma geraram avaliações negativas ao PT, mas a lembrança dos bons tempos do governo Lula, em comparação com o atual, continua na memória da população.
O centro político deverá vir fragmentado com Ciro Gomes e o candidato do PSDB, e outros possíveis candidatos de menor representatividade. No PSDB, Doria e Jereissati constituem-se em políticos expressivos e com significativa capacidade de gestão, mas sem projetos definidos que possam excluir as alternativas com Bolsonaro e Lula, como foi Juscelino Kubitschek com o lema governar é abrir estradas e o Plano de Metas 50 anos em 5.
As condições de surgimento de 3a via inesperada, como Collor e Bolsonaro, quando se verifica o esgotamento das vias tradicionais, estão pouco presentes com Lula nas eleições. O centro político poderia crescer no caso de Bolsonaro ficar politicamente mais diminuto ainda e percebido como inofensivo à democracia, o que é pouco provável de ocorrer.
É verdade, como diz o dito popular, que eleição e mineração, só depois da apuração. Mas as dificuldades para o centro serão significativas, com maior probabilidade de 2º turno entre Lula e Bolsonaro, em não havendo definição no 1º turno.
Difícil tarefa para o centro político brasileiro.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus