As delícias de ser avó, ou meras fantasias (por Mirian Guaraciaba)
Não sou avó das receitas, dos cheiros da cozinha, do tricot. Essa não é minha praia
atualizado
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Queria ser uma avó personagem. Daquelas que entram em todas as histórias dos netos … o melhor bolo de chocolate, a melhor brincadeira, o melhor passeio, o melhor presente, a melhor companhia. Divertida, exuberante, celebridade na vida dos pequenos. Tipo Rita Lee.
Me achando, não? A autoconfiança me traiu. Não acerto o ponto do bolo. Nunca fui parceira da cozinha (vejo como defeito grave nesse caso, quase invencível). Não tenho intimidade com o fogão, com as panelas, com os temperos. Arrisco. Às vezes acerto.
Do outro lado dessa história, dicotomia. Contradição. Como ser uma super avó se nunca quis ser só avó em tempo integral? Ao estabelecer meu próprio tempo, sem vínculo empregatício, como jornalista, e ter uma nova forma de jornada de trabalho, queria, claro, a liberdade que nunca tive. Decidir onde, como, e quando ir. Não uma agenda comandada.
Não sou avó das receitas, dos cheiros da cozinha, do tricot. Essa não é minha praia. Nem das histórias da carochinha. Daquelas contadas com tantos detalhes que quase se tornam verossímeis. Por curiosidade, “carochinha” em Portugal quer dizer mulher feia.
Ah.. conto histórias, sim. Invento. Aumento. Como fazia minha mãe, com os filhos sentados ao seu redor, o mote chama o restante da história, fabulado, imaginado. Leio livros para eles desde pequenininhos. Hoje, eles lem o que escrevo. Sensacional. Muito orgulho dos bambinos.
O presente mais surpreendente disputo com os pais, mães e outros avós. Vale? O melhor passeio planejo com antecedência. Tem que ser inesquecível. A melhor companhia? Me esforço. Nem sempre a pessoa (idosa, admito, com zero alegria) está disposta … com tudo funcionando. Músculos, ossos e cartilagens no lugar certo, na hora certa.
Acredito no meu sucesso junto aos pequenos. Há brilho nos olhos, o abraço apertado, o “vovó, eu te amo”, a corrida pro abraço que, quase sempre, quase me derruba. “Quero ir para sua casa”. Sem bolo de chocolate feito pela vovó, biscoitos de forno, pasteizinhos fritos na hora, ainda assim é um bom programa.
E o que os meus cinco netos – de 18 a 8 anos – mais gostam na minha casa? Dominar o espaço. Deitar na minha cama e controlar o controle remoto. Invadir o armário da despensa e pegar o que bem quiserem, abrir pacotes e latas sem pedir licença, jogar bola na sala. Ouvir minhas histórias. Não ter hora pra ir embora. É disso que me alimento.
Sou protagonista nesses momentos. Sou estrela nesse espaço de festa. É isso que me encanta. Guardei na memória as fantasias da super avó, de forno e fogão, e da entrega absoluta. Ganhei a convivência gostosa com eles. Regada a suco de uva em garrafa, pão de queijo (pré-assado), e bolo de confeitaria. Avó inteira, de verdade, nas horas livres.
Preguiça total – A discussão sobre a queda da popularidade de Lula tomou rumos tão previsíveis quanto enjoados. A imprensa parece feliz com a notícia. Depois de quatro anos de desgoverno, o que se esperava? O atendimento da saúde pública tem problemas, sim. Há décadas. Os fugitivos de Mossoró parecem ter virado fumaça. A insegurança nas ruas é dramática. Mas a economia reagiu, o emprego cresceu, a taxa de juros caiu, entre tantos outros resultados positivos desses 15 meses de governo. Devem ser melhor divulgados. Como disse Lula, na longa reunião ministerial dessa segunda, “se não falam bem do governo, falemos nós”.
Mirian Guaraciaba é jornalista