As cadeiradas invisíveis (Por Cristovam Buarque)
A cadeirada visível foi sobre a cabeça do outro candidato; as invisíveis são dentro da cabeça do eleitor e quebra sua esperança
atualizado
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O Brasil se surpreendeu com a cadeirada visível que o candidato Datena aplicou em um seu opositor, mas não se surpreende com as cadeiradas invisíveis que há décadas o povo brasileiro recebe de políticos vazios de propostas, sem compromissos nacionais e com excesso de demagogia e irresponsabilidade.
A cadeirada visível foi sobre a cabeça do outro candidato e quebrou-lhe uma costela; as invisíveis são dentro da cabeça do eleitor e quebra sua esperança em um Brasil melhor, uma cidade mais eficiente, pacífica, com convivialidade.
Pena que um candidato descontrolado aplique uma cadeirada visível em seu opositor, pior quando os candidatos executam friamente cadeiradas invisíveis contra os cérebros e esperanças dos eleitores.
A observação dos horários eleitorais, sobretudo dos discursos e debates ao longo da atividade política, no Parlamento, nas entrevistas tem correspondido a uma agressão mental e emocional, por ação ou omissão” sobre o eleitor.
Em 2025, o país completa quarenta anos de democracia sem que os políticos e candidatos ofereçam propostas para completar o processo iniciado em 1985, e pagar as dívidas ainda em aberto.
Não discutem a persistência da pobreza, manutenção da concentração de renda, péssima qualidade e abissal desigualdade da educação, a armadilha que não permite aumentar a produtividade e a renda média, a podridão da corrupção e a ferrugem da burocracia, a instabilidade jurídica e fiscal, a violência generalizada….
Este debate desapareceu dos discursos políticos, como uma violência intelectual e moral, uma pancada, uma cadeirada dentro do cérebro dos eleitores matando suas crenças nas lideranças e suas esperanças no futuro.
Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador