Ártico poderá ficar sem gelo já na próxima década (Por Nicolau Ferreira)
Estudo foi publicado na revista Nature Communications
atualizado
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A área de gelo marinho que cobre o Ártico tem vindo a diminuir devido ao aquecimento global causado pelos gases com efeito de estufa emitidos pela atividade humana. Uma das perguntas que os cientistas foram tentando responder ao longo dos anos era sobre quando é que esta tendência decrescente iria resultar num Verão sem gelo no Ártico. Agora, um novo estudo mostra que esse panorama poderá ocorrer já na próxima década.
Estas conclusões mostram uma perspectiva mais cinzenta do que a informação que se encontra no sexto e último relatório publicado pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês). Segundo o relatório do IPCC, antes de 2050 – ou seja, algures na década de 2040 – o mundo iria observar o primeiro Setembro sem gelo no Ártico. É durante aquele mês que, ano após ano, a área de gelo atinge o valor mínimo. Iniciando a partir de então um lento aumento que acompanha os meses sem luz do Pólo Norte, até atingir a área máxima de gelo em Março.
O trabalho de Yeon-Hee Kim, da Universidade de Pohang de Ciência e Tecnologia, na Coreia do Sul, e de mais colegas, usou os modelos citados no relatório do IPCC. No entanto, aqueles modelos não previam o declínio do gelo do Ártico que, entretanto, foi sendo observado nos últimos anos. Por isso, a equipa internacional fez uma adaptação aos modelos, tendo em conta a diminuição de gelo marinho que foi efetivamente medida.
Assim, os resultados antecipam o Verão sem gelo. “Os declínios mais fortes do gelo marinho do Ártico avançaram as primeiras ocorrências de anos sem gelo [em Setembro] para entre as décadas de 2030 e 2050” em todos os cenários climáticos, escrevem os autores no artigo publicado nesta terça-feira na revista Nature Communications.
Com poucos exemplos é possível ter uma ideia da evolução daquela região. A área mínima de gelo do Ártico em Setembro de 1979 era de cerca de 6,9 milhões de quilómetros quadrados. Mas em 2022, o gelo marinho atingiu um mínimo de cerca de 4,9 milhões de quilómetros quadrados. A nível do Ártico, considera-se que este ficará sem gelo quando a cobertura ficar abaixo de um milhão de quilômetros quadrados, já que é uma situação em que o gelo que resta está muito disperso. O ano em que o Ártico se aproximou mais daquela situação foi em 2022, quando a 17 de Setembro atingiu os 3,387 milhões de quilómetros quadrados.
(Trecho de reportagem publicada no PÚBLICO)