Arraes, ACM, Memória: ascensão de Marília e Neto (Vitor Hugo Soares)
As pesquisas já detectam ruídos e mudanças dos vento nas bases regionais, a começar pelo Nordeste
atualizado
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O Tempo – senhor da razão para os orientais, ou “compositor de destinos, tambor de todos os ritmos”, dos versos da canção de Caetano Veloso – empurra agosto para sua segunda quinzena, com as perdas e danos de praxe e tradição. Na campanha das eleições gerais de 2022, convocadas para outubro em primeiro turno, “chegou a hora de mostrar quem tem farinha no saco para vender na feira”, como dizia o falecido ex-governador Leonel Brizola, rematado frasista da política brasileira. Hora de dar maior atenção ao jogo das pesquisas, a exemplo da primeira rodada do Instituto IPEC (antigo Ibope), divulgada no Jornal Nacional (TV Globo), segunda-feira, 15, que mostra Luiz Inácio Lula da Silva, com 44% das intenções de votos para voltar ao mando no Palácio do Planalto), tendo nos calcanhares o atual mandatário Jair Bolsonaro (PL) com 32%.E a Datafolha, da quinta,15, que traz Lula estável, com 47% e Bolsonaro com 32%, subindo três pontos.
À medida que fica mais improvável uma decisão em primeiro turno, o ocupante do Alvorada é empurrado pelas benesses populistas da sacola de favores do Centrão, que manda e desmanda no Congresso, via orçamento secreto e outros dutos eleitoreiros. Agora com reforço marqueteiro da primeira dama Michelle Bolsonaro, em pregações político-religiosas, de tom radical e conservador, nos palanques evangélicos. De beleza e charme inegáveis, sintonia com pastores de seu credo e sopros políticos do enteado Carlos, que conduz a campanha nas redes sociais, e sopra no ouvido do pai, como se viu na posse do ministro Alexandre de Moraes no TSE, esta semana. Michelle acena com benesses na terra e no céu para os seus, em caso de vitória nas urnas, e com a s chamas do “fogo do inferno” para os adversários, que aponta como inimigos de seu marido e de sua família.
As pesquisas já detectam ruídos e mudanças dos vento nas bases regionais, a começar pelo Nordeste. Em Pernambuco e na Bahia (de onde escrevo), a ancestralidade e a memória mostram sua relevância: À esquerda, revela-se a pujança histórica do ex-governador Miguel Arraes, chefe político estadual por décadas, na ascensão da neta, Marília (Solidariedade), que lidera a pesquisa do IPEC para o governo estadual, com 33%, e vai na frente dos adversários mais fortes: Rachel Lyra, PSDB, 11%, e Danilo Cabral (PSB), apoiado por Lula no estado. À direita, na Bahia, o neto do ex-governador Antônio Carlos Magalhães, que mandou no estado quase até a morte, consegue ir além. ACM Neto, na recente pesquisa do Instituto Paraná, obteve 53% das intenções de voto, contra 18% do candidato governista, do PT, Jerônimo Rodrigues. O bolsonarista João Roma, do PL, tem 11,1%.
O cientista político da UFBA, Paulo Fábio Dantas, em entrevista na Tribuna da Bahia, destacou fatores locais , além da influência nacional,necessários para definir o pleito estadual. “Na Bahia aconteceu a fissura dentro da aliança governista. O fato de ser o candidato Jerônimo Rodrigues, PT, um nome desconhecido, sem tradição anterior, e ter do outro lado ACM Neto, um adversário com peso eleitoral importante, com experiência e trajetória. Sem o peso nacional, talvez a distância do Neto fosse ainda maior”, destacou Dantas. Precisa desenhar?
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br