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Ameaça climática já está no horizonte (por Marcos Magalhães)

As queimadas contribuem para as maiores emissões do Brasil de gases do efeito estufa

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1 de 1 Imagem colorida mostra Integrantes do Ibama atuam em queimadas no Amazonas - Metrópoles - Foto: Ibama/Divulgação

Parecia uma cena do antigo cinema francês. Domingo de manhã, na bruma que cobria o lago Paranoá, um jovem de pé remava em sua prancha de stand-up paddle, enquanto a companheira, de chapéu e pernas cruzadas, observava o estranho horizonte. Não se via a outra margem. Os ventos pareciam levar à capital federal perguntas sobre o futuro.

Poucas vezes o céu de Brasília esteve assim tão encoberto. Queimadas ocorrem na região nessa época. Mas a novidade do fim de semana foi a chegada da densa bruma proveniente do Sul, de queimadas ocorridas em São Paulo e Goiás.

Algumas delas foram intencionais, segundo investigações preliminares de polícias estaduais. Em Goiás, um dos responsáveis pelo fogo admitiu que o mandante do crime teria intenções de prejudicar um adversário político.

O governo prontamente acionou a Polícia Federal para investigar se algumas das queimadas teriam mesmo sido propositais. E a extensão do fogo pela região central do país já assusta os experimentados agentes do Ibama.

A bruma, que parecia cenário de cinema romântico, na verdade tinha contornos de um denso filme de ação. Ou, quem sabe, de ficção científica.

De agora até outubro, o cheiro das queimadas estará mais forte do que o de costume. Como se buscasse chegar aos gabinetes oficiais para lembrar a urgência climática.

Por enquanto pouca gente estará na capital federal para perceber o aviso. Muitos deputados e senadores permanecerão em seus estados a maior parte do tempo até a data das eleições municipais. Decisões em Plenário serão cirúrgicas e rápidas.

O governo permanece em pleno funcionamento, mas não são poucos os ministros que dividirão suas atenções nos próximos dois meses, que coincidem com o pior período da época seca, com o destino de seus aliados políticos nas próprias bases.

Quando as chuvas de novembro finalmente chegarem, trazendo de volta a normalidade à capital federal, será o momento de averiguar se os sinais da natureza terão tido algum êxito em atualizar a visão de mundo de muitos dos que decidem o futuro do país.

As queimadas contribuem para as maiores emissões do Brasil de gases do efeito estufa. A redução dessas emissões dependerá da contenção de ações criminosas e da conscientização dos produtores rurais – além de apoio político.

Mas outro setor importante para a redução das emissões e para a contenção dos riscos climáticos é o de energia. Para estimular a produção de energias renováveis, o governo enviou importantes projetos de lei ao Congresso Nacional.

Um deles estimula a produção de energia eólica offshore, ou seja, no oceano. Uma prática cada vez mais frequente na Europa, por exemplo, e que parece bastante promissora no vasto litoral brasileiro.

Pois o projeto foi populado, em sua tramitação no Senado, por diversos jabutis – como são chamadas as emendas que pouco têm a ver com a proposta original. Uma dessas emendas, por exemplo, permite a prorrogação de contratação de térmicas a carvão – entre as mais poluentes do mundo – a um custo de R$ 92 bilhões.

Os poderosos lobbies do setor de energia têm feito a sua parte no convencimento de parlamentares. Muitos interesses regionais também estão em jogo quando se discute o processo de transição energética do país.

Lobbies bem menos poderosos ligados aos movimentos ambientalistas também procuram atuar no Congresso Nacional, com resultados muito mais modestos.

Os sinais emitidos pelo clima terão algum sucesso na mudança de ventos em Brasília? Não se pode ser muito otimista, quando o Legislativo tem sido marcado pela forte influência das bancadas ultraconservadoras.

De qualquer forma, a ameaça da mudança climática já está, de fato, no horizonte. Vai ser cada vez mais difícil fechar os olhos para ela.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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