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Amazônia, Independência ou Morte (por Felipe Sampaio)

Conferência do IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração inovou ao aproximar empresas, militares, ongs, governo, academia e povos originários

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Tico Fonseca/Ibram
O ex-ministro Raul Jungmann, presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração)
1 de 1 O ex-ministro Raul Jungmann, presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) - Foto: Tico Fonseca/Ibram

Joaquim Osório Duque-Estrada ainda se mostrava otimista em relação à reciprocidade dos filhos deste solo para com a Mãe gentil, ao escrever o Hino Nacional, mesmo quando a chegada portuguesa já completava quatro séculos.

Ao ouvirmos em Belém, na semana passada, as análises preocupantes dos palestrantes da I Conferência Internacional Amazônia e Novas Oportunidades sobre a situação do território amazônico e as mudanças climáticas, ficou claro o tamanho do desafio socioambiental da nossa Pátria em construção.

Cem anos depois da publicação do nosso Hino, persistem sutilezas em um espírito de ocupação territorial e econômica semelhante ao dos antigos bandeirantes (heróis controversos da Ilha da Vera Cruz).

A rigor, especialmente na Amazônia, quem te adora deveria temer a própria morte, porque, em se tratando de aquecimento global, o efeito do descuido com a natureza pode ser o fim da vida em escala planetária.

O ex-dirigente da ONU Ban Ki-Moon abriu a Conferência organizada pelas mineradoras falando em “perigo de extinção em massa por volta 2100”, situação em que 70% das espécies do planeta seriam eliminadas (a última ocorreu há 25 milhões de anos).

O anfitrião Raul Jungmann colocou o bode na sala ao ressaltar que ainda não há um projeto para a Amazônia. Mais de meio milênio depois de Cabral desembarcar, o povo heroico cantado por Osório ainda crê que a amada idolatrada possa sobreviver deitada eternamente em berço esplêndido.

Contudo, a ativista Neidinha Suruí registrou que “já não basta reflorestamento é preciso reflorestar mentes”. A ocupação da Amazônia ainda se comporta como se a matriz energética, as matérias-primas e as moradias contemporâneas dependessem da madeira das matas originais.

Marcelo Furtado (ITAUSA) chamou a atenção para a necessidade de se rever os conceitos empresariais de risco e lucro. O grau e o tipo de riscos não são mais aqueles que orientavam os investimentos antes dos extremos climáticos.

Enquanto isso, Tony Blair, ex-ministro do Reino Unido, ressaltou que “o Brasil é crítico no processo de transição energética”. Em um mundo em que a Arábia Saudita insiste que vai extrair petróleo até a última gota, vale lembrar que a Idade da Pedra não acabou devido à falta de pedras, mas sim porque as tecnologias e as necessidades evoluíram.

Em 1909, embalado por boa fé poética, Duque-Estrada imaginava que a nação a que se referiu como filho teu já incluía igualmente os descendentes do colonizador europeu, dos escravizados africanos e dos povos originários.

Agora, em Belém, Ana Yung, da Chattan House britânica, mostrou preocupação com “as elites políticas envelhecidas que seguem tomando decisões importantes à revelia, especialmente, dos jovens que irão arcar com a herança dessas escolhas”.

A curadora da Conferência, Izabella Teixeira (ex-ministra do Meio Ambiente) acertou ao enfatizar que a adaptação climática “não diz respeito apenas a dinheiro ou a créditos de carbono, porque a questão é política”. Para a ex-ministra, o cidadão médio, os movimentos sociais e as autoridades, inclusive no Brasil, não têm consciência do processo político embutido no debate da mudança climática.

No mesmo evento, o pesquisador de Havard Hussein Kalout destacou que a relevância do Brasil nas mesas da nova ordem geopolítica em construção não dependerá apenas de articulações e declarações. Passará pelo investimento do País na reparação do seu passivo social e ambiental.

A oportuna Conferência do IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração inovou ao aproximar empresas, militares, ongs, governo, academia e povos originários. Um passo importante para que o futuro do gigante pela própria natureza, enfim, espelhe essa grandeza.

 

Felipe Sampaio: chefiou as assessorias dos ministros da Defesa e da Segurança Pública; cofundador do Centro Soberania e Clima; foi secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife; atual diretor do SINESP no Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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