Agulhas Negras, guardião do tesouro (por Otávio Santana do Rêgo Barros)
Temos o dever de proteger a integridade moral da nossa Instituição, como tantos o fizeram, e tantos o farão
atualizado
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5 horas e 45 minutos – o clarim inicia os acordes do toque de alvorada. Os apartamentos se enchem da energia emanada pelo despertar dos cadetes em preparação para uma nova jornada.
6 horas e 15 minutos – formados no pátio Marechal Mascarenhas de Moraes, os agrupamentos cobertos e alinhados aguardam a ordem de avançar para o rancho.
Lá do alto, na friorenta Itatiaia, o pico das Agulhas Negras observa sereno a agitação contida na movimentação dos herdeiros do Exército de Guararapes.
As escarpas do alcantilado acompanharam atentas a construção em pedra e mármore dos profundos alicerces e largas paredes que abrigam a ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS (AMAN).
Ao toque de ordinário marche, o maciço milenar se enche de entusiasmo ao ouvir a banda entoar o dobrado Avante Camaradas para dar ritmo à marcha em direção aos refeitórios.
“Avante camaradas!
Ao tremular do nosso pendão
Vençamos as invernadas
Com fé suprema no coração.”
Dirige o seu olhar para a frase esculpida na parede frontal do pátio, enquanto os cursos rumam para o salão espaçoso, mobiliado com mesas e cadeiras decenárias: “Cadete: ides comandar, aprendei a obedecer.”
Reflete sobre ela.
Reconhece-a como um desafio de peso para aqueles idealistas.
Exige sacrifícios de toda ordem.
Respeito genuíno às leis e aos regulamentos.
Respeito cristalino aos superiores, pares e subordinados.
Para os cadetes, a visão do pico das Agulhas Negras simboliza esses axiomas. É combustível da fé no cumprimento da missão.
A topografia desgastada da rocha alerta os jovens para o cultivo da perseverança, da paciência e do espírito de humildade – um lema das tropas de montanha.
O pico, impoluto, assume o papel de guardião do tesouro conquistado nas curvas do rio Alambari que serpenteia o conjunto arquitetônico da AMAN: a servidão e a grandeza militares.
Os cadetes – homens e mulheres – irradiam um entusiasmo contagiante, enquanto se preparam para a missão que lhes foi oferecida: defesa da soberania nacional e da sociedade indivisa.
A atmosfera da Academia, imaginada por seu criador, o Marechal José Pessoa, mesclada de atividades militares e universitárias, ainda está protegida das vicissitudes diárias que assolam o nosso país.
Fora dos muros daquela instituição de ensino, a Força se defronta com inúmeros desafios. Quase todos os dias, tentativas tacanhas de irresponsáveis, fustigam as paredes de sua credibilidade. E ela segue inabalável.
Não obstante e por precaução, é preciso estabelecer uma poderosa defesa circular contra os ataques aos valores, tradições e confiança acumulados em cinco séculos de peleias.
A serenidade firme, amalgamada sob o olhar do velho pico, será o fator dissuasório contra aqueles que se arvoram detentores do direito supremo de banalizá-la. Temos o dever de proteger a integridade moral da nossa Instituição, como tantos o fizeram, e tantos o farão.
Nessa empreitada, torna-se importante diferenciar os que foram sagrados por merecimento como portadores das tradições de Caxias, daqueles que as citam tão somente para usurpar dolosamente a respeitabilidade da Instituição.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros. General de Divisão R1