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Agro é tech! Não dá mais tempo ser pop (por Felipe Sampaio)

Está em jogo a sofisticada concorrência global de comodities como soja, trigo, cevada, palma, girassol, aves, suínos e bovinos

atualizado

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1 de 1 agricultura - Foto: iStock

A nova campanha “Agro de gente pra gente” quer reconciliar o mercado com o setor, visto como cavaleiro do apocalipse. Acertou ao manter parte do slogan antigo (Agro é tech…), do contrário, deixaria de fora sua tábua de salvação – a tecnologia.

Afinal, está em jogo a sofisticada concorrência global de comodities como soja, trigo, cevada, palma, girassol, aves, suínos e bovinos. E nesse campo, não adianta ser pop se não for tech.

Pra piorar, o novo fator de risco do segmento é a sua própria pegada ambiental, e isso só se resolve com as novas tecnologias climáticas. Quando o Agro nacional queima a floresta, a sua credibilidade (leia-se lucro futuro), vira fumaça.

É bem verdade que o Brasil avançou em tecnologia de produção, ganhando boa freguesia na Ásia e Europa. No entanto, persiste uma ‘lavoura arcaica’ que acha mais barato abater (ou grilar) matas nativas.

A tecnologia pode, por exemplo, migrar pastos ociosos para a agricultura, deixando de pé a Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Mata Atlântica. Enquanto isso, europeus e americanos estão reflorestando. Os gringos derrubavam suas florestas quando a fonte de energia era a lenha vegetal, a madeira era matéria-prima para quase tudo e o Agro era completamente extensivo.

Segundo Raoni Rajão (UFMG), a cobertura florestal em parte da Europa já é maior do que no Sudeste brasileiro. Ao mesmo tempo, a mudança climática está viabilizando o uso de regiões até então inóspitas como a Sibéria, Alasca, China e até mesmo Antártica.

Mesmo assim, o Brasil segue à moda antiga. Pra variar, nosso barato custa caro. A revista Science conta que mais de 90% do desmatamento tropical ainda têm a agropecuária como pretexto (dos quais, 1/3 serve à especulação ou acaba abandonado por inadequação produtiva).

Rajão lembra que o Brasil já foi vencido outras vezes pela tecnologia estrangeira, por apostar que as áreas cultiváveis, a mão de obra barata (ou escrava) e o dinheiro público eram inesgotáveis, como aconteceu com a cana de açúcar, borracha, café, algodão etc.

Ou seja, não se trata apenas de preservar a natureza, mas de sobreviver no negócio. O Agro nacional não preparou seu tech para se adaptar ao caos climático que chega com velocidade inesperada.

As hipóteses de desertificação e savanização começam a assustar cientistas (e investidores!) no Brasil. O Cerrado se converte em monocultura de soja numa proporção que eleva a temperatura local em até 3,5°C, inviabilizando o próprio cultivo (MapBiomas), enquanto as queimadas da Amazônia sufocam São Paulo com fumaça.

A publicidade pop não vai garantir competitividade ao Agro brasileiro – a tecnologia sim. Ao invés de, literalmente, querer tapar o Sol com a peneira pra poder ‘passar a boiada’, é inadiável optar por ciência, estratégia e investimento.

 

Felipe Sampaio: membro do Centro Soberania e Clima; ex-assessor especial do ministro da Defesa (2016-2018); foi secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife.

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