África na veia: tour motiva Lula taxar ricos (por Vitor Hugo Soares)
Taxar ricos, como se sabe historicamente, é um dos mais intocáveis tabus econômicos, políticos e culturais por aqui
atualizado
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Motivado e, ainda, sob forte estímulo do que viu, ouviu, disse e fez no périplo de final de agosto, pelo continente africano – África do Sul, Angola e São Tomé e Príncipe –, incluindo a festiva celebração, domingo, 27, do aniversário de 57 anos da primeira dama Rosângela Silva, a Janja, em meio a homenagens de capoeirista e direito a mensagem pública de “feliz aniversário meu amor”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não perdeu a embalagem. Na tarde de segunda-feira, 28, já estava em atividade no Palácio do Planalto, onde assinou e enviou ao Congresso, duas medidas que taxam investimentos dos grupos mais abastados do Brasil.
Taxar ricos, como se sabe historicamente, é um dos mais intocáveis tabus econômicos, políticos e culturais, por estas terras do lado de baixo da linha do Equador. O estímulo, da viagem ao sofrido e insondável universo africano (a cúpula dos BRICs, em Johanessburg, o encontro de chefes de estados de língua portuguesa, em Luanda, ou as festividades típicas em São Tomé), qualquer que tenha sido, deu novo gás e fez Lula, de volta à Brasília, ir direto ao ponto, sem dar mais ouvidos aos tradicionais “oráculos do “deixa pra lá”. Despachou para as mãos de Pacheco e de Lyra, as medidas que vão mexer nos bolsos dos mais ricos, na busca de ampliar a arrecada&cced il;ão de impostos para cumprir a meta de zerar o saldo das contas públicas.
Quem sabe o poder dos densos e profundos versos da canção de seu ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, “La Lune de Gorée”, (A Lua de Goréia), porto de sofrimentos, açoites e amargura, de onde levas e levas de escravos eram embarcados, a soldo de poderosos da época, em navios negreiros com destino a terras brasileiras, mexeram fundo nos sentimentos e na vontade do presidente petista, e o fizeram lembrar das promessas de campanha para o terceiro mandato no Palácio do Planalto?.
“A Lua que se ergue/ Na ilha de Goreia/ É a mesma Lua/ Que se ergue em todo o mundo./ Mas a Lua de Goréia/ Tem uma cor profunda/ Que não existe/ Em outras partes do mundo/ É a Lua dos escravos/É a Lua da dor/Mas a pele que há/ No corpo de Goreia/ É a mesma pele que cobre
Todos os homens do mundo”, diz o canto do poeta imortal da Academia Brasileira de Letras. Mais que emblemático.
Mas já se escutam queixumes e protestos contra os atos baixados pelo mandatário petista, disparados de paraísos fiscais e dos andares de cima habitados por defensores dos pouco mais de 10% de detentores de grandes fortunas no País – onde o governo petista, em novos planos fiscalistas, tem sido comparado até a “punguista”, entre ofensas ainda maiores. Diante dos ruídos, o presidente Lula, em sua Live desta semana, no Palácio do Planalto, saiu em defesa da nova cria de seu terceiro mandato. Classificou a taxação de “ medida justa e sensata”, e disse esperar a aprovação do Congresso para a medida provis&oacut e;ria, que institui tributação periódica sobre rendimentos de fundos exclusivos de investimentos, “e assim incluir os ricos no Imposto de Renda”.
Neste delicado embate, aliados importantes do governo (não só inimigos de praxe) consideram que Lula avançou alguns pontos além da curva. Em postagem nas redes sociais, o mandatário escreveu: “Fizemos uma coisa justa, sensata, que espero que o Congresso Nacional aprove, de forma madura, ao invés de proteger os mais ricos, proteja os mais pobres”. Precisa desenhar? Responda quem souber.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br