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Adeus a Roque Aras: Bahia sem ódio no Campo Santo (por Vitor Hugo)

Luto estabelece uma trégua tácita na guerra interna de pilares do PT baiano

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1 de 1 c235392f-augusto-aras-e-o-pai-roque-aras - Foto: Reprodução/Redes sociais

A morte, aos quase 91 anos, em Salvador, dia 28/2, do jurista e ex-deputado Roque Aras – pai do Procurador Geral da República, Augusto Aras –, seguida das mensagens e falas sobre a perda, e principalmente nas cerimônias do velório e sepultamento, no cemitério do Campo Santo, sinalizou a mudança de qualidade e conteúdo nas relações civilizadas na postura política, social e ideológica de contrários.

Produziu um fenômeno praticamente abolido nos anos de ódio e destempero do governo Bolsonaro.

Desde o primeiro registro da morte, vindo da PGR, em Brasília, que seu filho preside, confirmada em nota da seccional da OAB-BA, afloraram memórias positivas, lamentos, reconhecimentos, mensagens de louvor, nas redes sociais, veículos de comunicação, e no velório e sepultamento, marcados por representações expressivas e de amplo espectro da sociedade. Reunidos, todos, para homenagear a estatura e representatividade de Roque Aras: natural da lendária cidade de Monte Santo, portal de entrada para os sertões do beato Antônio Conselheiro, da Guerra de Canudos, na transição do Império para a República no Brasil. Cenário transcendente da questão mística e religiosa misturada com política e enredos dos donos do poder regional, que o notável e premiado cineasta Glauber Rocha celebrizou mundialmente em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

Aras pai começou a se projetar como figura política, jurídica, democrática e acadêmica nos primeiros anos da ditadura, quando Francisco Pinto era prefeito de Feira de Santana, afastado do cargo por tropas militares que cercaram a prefeitura e sua residência. Em 64, Aras era o Secretário de Governo, na gestão Chico Pinto, deposto do cargo pelo regime de força que então se implantava no país, mas tornar-se-ia um dos mais brilhantes parlamentares da República, na resistência democrática, ao lado de Ulysses Guimarães. O primeiro efeito visível da notícia da morte de Aras, pai – depois de um período de “sofrimentos físicos por motivos de saúde”, segundo a filha Viviane Aras – foi estabelecer uma trégua tácita na guerra interna de pilares do PT baiano (governador Jerônimo Rodrigues, ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o senador Jaques Wagner), pela vaga no TCM, além do secretário geral do UB, ex- prefeito de Salvador, ACM Neto, que andava mudo, desde a derrota nas eleições passadas, para o Palácio de Ondina.

Todos eles destacaram méritos e saudaram a memória do homem público que partia: ex-presidente do MDB baiano, ex-membro da seccional baiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ex-procurador Geral do Município de Salvador. O prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins, decretou luto municipal.

O amigo pessoal, escritor, empresário, ex-diretor da Tribuna da Bahia, ex-deputado Constituinte de 1988, Joaci Góes, atual diretor presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, disse em obituário na TB: “Roque Aras foi o que poderíamos classificar como cidadão estadista que exerceu diferentes atribuições que o legitimaram para receber o respeito e a admiração dos seus contemporâneos, porque nessa dimensão ele se afirmou no plano dos amigos, da família, da profissão de advogado que ele tanto dignificou e no exercício das importantes atribuições políticas que desempenhou… Tenho certeza de que o seu exemplo de elevada cidadania frutificará”. Que assim seja!

 

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.E-mail: vitors.h@uol.com.br

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