ACM Neto x Jerônimo: Carlismo e Petismo duelam na Bahia (Vitor Hugo)
O choque de velhos e novos personagens da política local e nacional anima e tempera a eleição baiana
atualizado
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“Pense em uma campanha animada e encardida”, como dizem os nordestinos. Daquelas que no começo parecia “uma mangaba madura a ser colhida no pé” pelo carlismo (o de raiz, criado e moldado pelo falecido ex-governador e ex-governador Antonio Carlos Magalhães, dono do poder, por décadas no estado, que agora ressurge com tinturas de juventude, modernizado e competitivo eleitoralmente, pelas mãos, gestão e poder de articulação político partidária de ACM Neto bem avaliado ex-prefeito de Salvador, candidato do União Brasil a governador do estado, que lidera desde o começo as pesquisas dos principais institutos, frente aos dois maiores oponentes (Jerônimo Rodrigues (PT) e o bolsonarista João Roma (PL). Mas Neto começou a perder o fôlego inicial a partir da federalização da disputada caseira, transformada habilmente pela coordenação da campanha presidencial de Lula, em confronto de vida ou morte do petismo, no poder estadual há quase 16 anos, contra a ressurreição do carlismo sob o comando de Neto.
Este fenômeno factual inesperado, se não muda por completo o quadro da largada, serve para explicar a redução nas apostas de que a briga pelo Palácio de Ondina se resolverá no primeiro turno de votação, neste domingo, dia 2. Além das mudanças estratégicas nas agendas dos quatro candidatos, melhores colocados na corrida pelo Palácio do Planalto, que resolveram na Hora H mudar de rotas e pegar os caminhos do Nordeste, com passagem obrigatória pela Bahia, para ver de perto – e se possível tirar algum proveito –, dos sismos e oscilações que os institutos de pesquisa começaram a detectar nos últimos dias. Assim, pousaram em Salvador, esta semana, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que vieram testar a boa receptividade popular que tiveram na capital, quando participaram, nas ruas, dos festejos cívicos ao 2 de Julho, data magna da Independência do Brasil na Bahia.
Aportou também na “cidade de todos os santos e de quase todos os pecados” (segundo o saudoso cronista Nelson Gallo) o presidente candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), a caminho de fazer comícios nas barrancas do Rio São Francisco: primeiro em Juazeiro, margem baiana do Velho Chico. Depois, em motociata, atravessou a ponte para Petrolina, Pernambuco, onde terminou o dia em almoço no “Bodódromo”, seguido de novo comício.
O petista Luís Inácio Lula da Silva, líder das pesquisas para a presidência, também alterou a agenda para encerrar sua batalha no Nordeste. Seguindo orientação do comando nacional da campanha, na sexta-feira em Salvador, veio dar mais gás e novo empurrão à “campanha do companheiro Jerônimo, que tem a cara da Bahia”, como vinha afirmando no horário da propaganda do candidato petista. Depois seguiu para Fortaleza, no Ceará, de Ciro Gomes (agora sem o irmão Cid), onde a campanha estadual também pega fogo nestes últimos dias, antes do encontro com as urnas do primeiro turno.
É este choque de velhos e novos personagens da política local e nacional, que anima, tempera e faz da campanha de sucessão baiana uma das mais atraentes, polêmicas e referenciais disputa destas eleições gerais de 2022 no País. Sem falar do inventivo, polêmico e surpreendente confronto dos marqueteiros, sempre uma atração a mais a ser vista e estudada na terra mãe do marketing político brasileiro. O resto a conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. Email: vitors.h@uol.com.br