A violência nos Estados Unidos provém de dois fatores: do individualismo, na presença do excesso de armas e diferenças de níveis econômicos e oportunidades; e do lastro de uma história de guerras, na formação da nação e em outros países.

Os Estados Unidos têm uma longa tradição de guerras. No século XIX, os Estados Unidos participaram de 56 guerras; no século XX, 27; neste século XXI, 6.

Segundo o World Population Review, os Estados Unidos contam com 393 milhões de armas, acima dos 333 milhões de sua população. Com 4,3% da população mundial, os Estados Unidos contam com 42% das armas existentes.

O individualismo, nas teorias de Adam Smith, considerado como benéfico às sociedades, gerou a disfunção social, nos termos da anomia de Durkheim, na quebra dos laços tradicionais. Os Estados Unidos apresentam um PIB de US$ 27,5 trilhões, com renda per capita de US$ 65.000,00. Segundo artigo de Paul Krugman no New York Times, os 50% mais pobres dos Estados Unidos, embora se situem nos 5% mais altos da distribuição da renda mundial, sentem-se ofuscados pela disparidade americana, em status e no poder de compra. A revolta na sociedade se instala.

Segundo dados das Nações Unidas, os Estados Unidos apresentam índice de 5,0 assassinatos para 100.000 habitantes ano, para média mundial de 5,8. O índice americano é certamente muito inferior ao da Venezuela com 35: México 29,1; Colômbia 25,3; e Brasil 22,8.

É equivalente ao da Argentina, com 5,3. Mas muito acima do Canadá com 1,8; Europa 2,8; China 0,5; e Japão 0,3.

Na violência política, os Estados Unidos contam com 16 atentados contra Presidentes em sua história; 6 assassinatos consumados; o primeiro, de Abraham Lincoln, o “pai da nação”; o último, de John Kennedy, que tanto nos aterrorizou. E, recentemente, o atentado contra Trump, candidato, inadmissível para um grande país, alicerçado que é em valores democráticos e no voto.

Os mass shootings são definidos, no conceito do National Institute of Justice, em quatro ou mais óbitos ocorridos em cada atentado. Segundo o site Statista, em 1982-1992 ocorreram 14 mass shootings nos Estados Unidos; 19 em 1992-2002; 29 em 2002-2012; 77 em 2012-2022; em tendência crescente no país. Os mass shootings caracterizam a violência dos que se sentem ultrajados contra a ordem dos bem-sucedidos. Os Estados Unidos contam com 73% dos mass shootings mundiais.

Não há o que segure os Estados Unidos, em suas virtudes e problemas.

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago