“A vergonha mudou de lado” (por Miriam Guaraciaba)
Gisèle Pelicot mostrou ao mundo caso assombroso de estupro coletivo, em série, orquestrado por seu marido.
atualizado
Compartilhar notícia
O que mais impressionou na arrepiante cronica da francesa de 72 anos foi sua coragem. Por quatro meses – exaustivo e impactante julgamento de Dominique Pelicot, na cidade francesa de Avignon – Gisèle expôs sua história, e se expôs ao mundo, de cara limpa, sem se esconder atrás de óculos escuros, nem camuflar provas perturbadoras que tem contra seu marido e outros 50 velhacos.
Gisèle e seus três filhos estavam presentes quando foi lida a sentença de 20 anos para Dominique (pena máxima numa França que só reconhece o estupro quando uma pessoa é agarrada à força na rua). Quando diz não e a mulher é abusada, não é estupro, assim entende a maioria dos franceses. Gisèle foi dopada e violentada por dez anos. Só descobriu porque a polícia apreendeu o computador do marido em decorrência de outro crime por ele cometido. Ali estavam imagens devastadoras.
Dorrit Harazim lembrou em seu artigo no ultimo domingo, em O Globo, que a “eterna” Catherine Deneuve, mulher do nosso tempo, considerou “radical” o movimento “Me Too” que mobilizou estrelas de cinema americanas e de outros países. Condenações por estupro são raríssimas na França. Em 2020, 94% dos casos registrados foram arquivados no País.
O caso Gisèle Pelicot fechou um 2024 carregado de tragédias humanas, crises políticas, ameaças iminentes ao planeta. A reeleição de Donald Trump trouxe maus presságios. O avanço da direita trouxe a certeza do atraso aos que acreditam na urgência de programas sociais, minorando os efeitos miseráveis da fome, da pobreza.
No Brasil, as últimas semanas do ano foram um resumo de tudo que vivemos neste 2024 sombrio. O Presidente Lula correu risco de morte, segundo seu médico Roberto Kalil. Graças à intervenção de emergência, salvaram a vida do único líder capaz de contornar as sucessivas crises criadas pelo Parlamento – sempre atento ao meu tostão primeiro, ainda que seja ilegal.
Lula retomou o governo animado, aprovando reformas e reduzindo gastos do governo. Dino ajuda. Ontem, segunda, o ministro do STF suspendeu pagamento de $ 4,2 bilhões em emendas de deputados, previstas para este ano. E ainda mandou a PF investigar a liberação da verbas. As indicações não atenderam a critérios previamente acertados entre a Corte, o Congresso e o Executivo.
Em 2025, será assim. Rédea curta. Lula e Dino deram a cartilha para deputados e senadores.
Deu ruim pra Janja
Pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 22 de dezembro, trouxe cenário desconfortável para a Primeira Dama. O conceito positivo dos brasileiros em relação a ela é hoje menos da metade do que já foi. Apenas 22% consideraram sua imagem positiva, contra 41% há um ano.
Ibaneis e a plebe rude.
Na reinauguração do Teatro Nacional, depois de reforma necessária – custou os tubos aos cofres públicos – o governador do Distrito Federal abriu as portas da Sala Cláudio Santoro para uma plateia VIP. Nenhum mortal pôde ver Chitãozinho e Xororó e a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional.
Dito isso, Feliz Natal, e um 2025 de juros mais baixos, dólar acessível, menos violência policial, e redução do caos climático.
Mirian Guaraciaba é jornalista