A prévia do PSDB (por André Gustavo Stumpf)
São dois nomes em disputa: João Doria, governador de São Paulo, versus Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul
atualizado
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O país está a um ano das eleições presidenciais. A imensa pluralidade de partidos, legendas e grupos políticos existentes obriga que os líderes e os protagonistas da política procurem a melhor posição na largada em busca dos eleitores. É uma eleição grande, com quase 150 milhões de votantes, e, ao mesmo tempo, profundamente radicalizada.
De um lado, o PT de Lula, ferido pela prisão de seu líder e por acusações graves de corrupção, e, de outro, a direita furiosa de Jair Bolsonaro, que prometeu um país e entregou seu reverso.
Entre os dois, há espaço para o florescimento de uma candidatura alternativa, a chamada terceira via. Além de Ciro Gomes, os dois extremos estão consolidados. Mas, no centro, as posições se alternam no aguardo de uma decisão importante que será tomada pelo PSDB no dia 21 de novembro.
Os tucanos vão escolher seu candidato naquela data. São dois nomes em disputa: João Doria, governador de São Paulo, versus Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. O senador Tasso Jereissati, do Ceará, já manifestou apoio ao gaúcho.
O ex-prefeito de Manaus e ex-senador, Arthur Virgílio, que no Senado foi importante opositor ao governo do presidente Lula, ainda não manifestou seu apoio. Ou se mantém sua candidatura. A posição do PSDB, que vai indicar o candidato de centro, deverá balizar as outras agremiações para também colocar os seus respectivos candidatos na ribalta.
E acontecerão, naturalmente, composições entre candidato a presidente e o vice indicado por outro partido. Surgiu a novidade do União Brasil, partido resultado da fusão do PSL com o DEM, que terá a maior bancada no Senado e na Câmara. Este é um dado importante.
O PSD sonha com a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mas poderá entrar em algum tipo de composição. Alguns nomes vão escorregar para candidaturas ao Senado e à Câmara. As coligações estão proibidas e a cláusula de barreira está em vigor. Este detalhe modifica bastante a qualidade das eleições.
Será necessário ter candidatos fortes no voto proporcional para fazer grandes bancadas. Os pequenos ficarão defendidos dentro das federações de partidos que unirá as legendas, mantendo cada uma sua identidade, por quatro anos. Os pequenos vão viver debaixo de um guarda-chuva restrito.
A disputa dentro do PSDB é interessante. O governador João Doria tem a maior vantagem. Ele governa o mais rico estado do Brasil, São Paulo, com seus empresários inquietos e seu mercado financeiro agilíssimo, conectado com as principais praças do mundo. Dinheiro ali não é problema. O problema é convencer o empresário a ajudar este ou aquele.
Doria saiu na frente na guerra das vacinas. Colocou seu produto, Coronavac, em primeiro lugar para vacinar brasileiros e não apenas paulistas. Usou e abusou de entrevistas sobre a pandemia, a sua vacina, sempre com forte crítica ao presidente Bolsonaro, insensível diante da mortandade que envolveu sua administração. Na disputa das narrativas, Doria foi amplamente vencedor. O presidente entrou na história como genocida.
Doria é um nome nacional, conhecido em todo o país, mas tem problemas em São Paulo, dentro de seu próprio partido. O PSDB ligado a Geraldo Alckmin não aprecia a candidatura do governador. E trabalha com outros nomes e outras legendas. A dissidência começa na base. A disputa é feroz. Um grupo agride o outro.
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, tem 36 anos, foi antes prefeito de Pelotas, o que lhe concede alguma experiência administrativa. “Mais do que Lula, Dilma e Fernando Henrique tinham antes de assumir a Presidência da República”, costuma dizer. O gaúcho teve a iniciativa de assumir sua orientação sexual e se deixar fotografar com o parceiro. Nova geração emerge dentro do PSDB. Depois da fragorosa derrota na última eleição, o partido precisa se reconstruir.
Interessante e digno de registro é que correligionários de Eduardo Leite estão convencidos de que ele pode vencer as prévias. Ele é, ou era, um azarão. Os especialistas afirmam que ele tem votos em São Paulo, onde Doria deve vencer, mas é apontado como favorito em Minas Gerais, nos estados do Nordeste, menos Rio Grande do Norte, nos três estados do Sul e cerca de metade no Centro-Oeste.
Ou seja, o azarão passou a ter alguma chance. Qualquer que seja o vencedor, a prévia do PSDB será uma espécie de largada na corrida dos presidenciáveis. Até o carnaval, as chapas, as composições, os palanques estaduais e até as dissidências deverão revelar o novo panorama eleitoral brasileiro.
André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos 1970. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 1988, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy), com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense.