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A pandemia da desigualdade (por Felipe Sampaio)

Estudo da Oxfam informa que as dez maiores fortunas pessoais do planeta cresceram acima de 100%

atualizado

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1 de 1 Estrutural-Desigualdade - Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

A Oxfam, organização inglesa criada há 80 anos, publicou neste mês o relatório – “Desigualdade Mata”, com um dado de contraste assustador: durante os dois anos de pandemia de covid-19 o mundo registrou um novo bilionário a cada 26 horas, ao mesmo tempo em que quase 200 milhões de indivíduos passaram a integrar as estatísticas de pobreza.

O estudo informa que as dez maiores fortunas pessoais do planeta cresceram acima de 100%, somando mais de um bilhão de dólares por dia, enquanto caíam os ganhos de 99% da humanidade, ao longo do período de pandemia.

Os dados da publicação indicam ainda que a taxa de elevação das grandes fortunas foi maior nos dois últimos anos do que nos 14 anteriores, no maior salto de riqueza desse grupo desde o início da série histórica.

Isso mostra que a ciência, o capital e o Estado foram capazes de diagnosticar, prevenir e curar doenças que dizimaram populações ao longo de eras. Até mesmo o câncer hoje registra risco de morte inferior ao de poucas décadas atrás.

Contudo, um milhão de anos de existência do ser humano não foram suficientes para sequer atenuar a pior e mais antiga doença que já assolou a nossa espécie – a desigualdade social.

A Terra de Santa Cruz, que não costuma ficar para trás quando se trata de más notícias, também deu sua cota de contribuição à pandemia da desigualdade, incorporando dez novos bilionários ao time dos abastados durante a Covid, enquanto 90% dos brasileiros sofreram redução na renda.

A humanidade vem enfrentando no curso do tempo, com muito esforço, incontáveis moléstias letais como a lepra, a peste, a gripe espanhola, Aids, ebola, varíola, cólera – e luta para controlar a covid-19.

Vale lembrar nesse contexto que o presidente Franklin Roosevelt, mesmo governando a maior potência do planeta por mais de uma década, não escapou de complicações decorrentes da poliomielite.

Ao contrário do que acontece com o coronavírus em suas diferentes versões, a pandemia da desigualdade é intencional desde sua origem. Quem sabe, suas primeiras cepas datem do princípio de tudo.

Talvez tenha passado despercebido ao autor do Gênesis que Adão já planejasse comandar o paraíso, mesmo antes de sua costela comer a maçã. Da mesma forma, Darwin não notou que a primeira ideia do pithecantrophus, ao caminhar ereto, foi passar na frente dos seus semelhantes. De lá para cá, valeu a lei do mais forte (ou mais rico).

A desigualdade é o drama primordial do ser humano. Salvo exceções (meteoros, por exemplo), os demais problemas decorrem da desigualdade, alguns como parte da causa, outros como efeito.

A desigualdade se mostrou também na distribuição de doses. Milhões de habitantes de países e regiões pobres não têm acesso nem à primeira dose para grupos de risco, enquanto países e regiões privilegiadas já adquirem a terceira dose para toda sua população.

As lideranças econômicas e políticas conhecem a vacina e o remédio contra a implacável pandemia de desigualdade social que já chega a caracterizar a humanidade, cristalizando-se como pilar da estrutura das sociedades humanas, ou como ingrediente original da nossa índole.

Não há justificativa aceitável. A culpa não foi da serpente do Éden. Negar-se a tratar com urgência a desigualdade social é uma escolha de cunho moral indisfarçável.

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