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A pandemia da corrupção (Por Ronaldo Brasiliense)

No Pará, o maior desvio de recursos públicos durante a pandemia da Covid-19

atualizado

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Governador do Pará, Helder Barbalho (MDB)
1 de 1 Governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Médicos, enfermeiros, técnicos, maqueiros e motoristas de ambulância ficaram meses sem receber salários. Hospitais de campanha funcionavam de forma precária, muitos sem leitos de UTI, respiradores mecânicos e com escasso oxigênio para atender aos casos mais graves de infecção pela Covid 19.

Enquanto isso, uma quadrilha montada por organizações sociais desviava mais de R$ 450 milhões no Estado do Pará, dinheiro que deveria ser empregado no combate à pandemia.

Essas são as principais conclusões da segunda etapa da Operação SOS, da Polícia Federal, no Estado do Pará, onde o dinheiro que deveria ser gasto para salvar vidas na maior pandemia em 100 anos transformou-se em fazendas de gado, helicóptero, aviões, apartamentos e carros importados.

A Operação Reditus, da PF, Receita Federal e Controladoria Geral da União (CGU) prendeu 61 pessoas e sequestrou bens avaliados em R$ 1 bilhão para tentar ressarcir o erário público. O rombo, segundo a PF, pode chegar a R$ 1,2 bilhão.

O “operador financeiro” da quadrilha, Nicolas André Morais, de 32 anos, conhecido como Gordo, chegou a movimentar R$ 100 milhões num posto de gasolina inativado de sua propriedade.

Gordo seria o elo de ligação entre os operadores de quatro organizações sociais e o governador do Pará, Helder Barbalho, que teria como organizador do esquema corrupto o chefe da Casa Civil do governo do Pará, Parcifal Pontes, preso pela PF na Operação SOS I, em setembro de 2020.

Parcifal seria o responsável por antecipar informações sobre as apurações da polícia para integrantes do governo e da quadrilha das OSs, como ocorreu na quinta-feira passada na operação de busca e apreensão realizada em apartamento de luxo no edifício Vasco da Gama, em Belém do Pará, que foi esvaziado antes da PF chegar.

Parsifal também usaria, segundo a PF, o cartão de crédito sem limites de Nicolas Morais, que coordenava a distribuição do dinheiro repassado pelo governo do Pará para as organizações sociais que administravam nove hospitais paraenses na pandemia.

Uma das OSs, o Instituto Panamericano de Gestão, que administrava o hospital de campanha de Santarém e o hospital regional de Itaituba, no oeste do Estado, recebeu em uma semana R$ 8 milhões do governo, nas teve que repassar R$ 5 milhões para a quadrilha.

O governador Helder Barbalho não foi alvo da Operação SOS II. Todos os relatórios envolvendo o governador – que tem foro privilegiado – foram desmembrados e encaminhados ao ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o foro competente para julgar governadores de Estado.

O Pará tem mais de 580 mil casos do novo coronavirus, registrando até 23 de agosto 16.365 óbitos.

 

Ronaldo Brasiliense é jornalista há 43 anos. Trabalhou na VEJA, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e Correio Braziliense. Ganhou, entre outros, dois prêmios Esso de jornalismo, um Embratel e outro Petrobrás.

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