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A “outra” pandemia continua crescendo (por Humberto Luiz Ribeiro)

O crime cibernético ganhou escala e sofisticação, alcançando vítimas planeta afora e se firmando como a ‘pandemia derivada da pandemia’

atualizado

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Michael Mello/Metrópoles
Crime cibernético
1 de 1 Crime cibernético - Foto: Michael Mello/Metrópoles

O lockdown mudou hábitos da população mundial a partir de 2019 e promoveu uma instantânea expansão dos meios digitais, permitindo que pudéssemos prosseguir trabalhando, estudando e interagindo de forma remota. E esse salto de conveniência e agilidade, além de abranger mais e mais setores, nunca mais retrocederá, claro.

Como resultado adjacente, fez proliferar a atuação dos cibercriminosos. De forma muito acelerada, o crime cibernético ganhou escala e sofisticação, alcançando vítimas planeta afora e afetando a todos nós e a todo tipo de organização, sem exceção, se firmando como a ‘pandemia derivada da pandemia’, infelizmente.

Enquanto a crise de saúde pública foi gerenciada com a aplicação generalizada da vacina, a sua co-irmã digital segue em crescimento exponencial. E nós, especialistas no ambiente digital, permanecemos em busca de evoluções radicais na cibersegurança, de forma a resgatar maior tranquilidade para os mais de 6 bilhões de usuários diários de mecanismos digitais.

Nesse sentido, atuei mês passado em uma pesquisa sobre prontidão cibernética, conduzida em parceria com a FINATEC e o CIGOD (Centro de Inovação em Governança e Operações Digitais) da Universidade de Brasília. Ali averiguamos que poucas organizações, privadas ou públicas, têm a estrutura interna ideal para neutralizar os agressores cibernéticos, dispondo, em geral, apenas de estruturas reativas para recuperação dos incidentes ocorridos, mas quase nunca de aparato de prevenção e de cooperação sistêmica para mitigar riscos de forma antecipada.

É certo que nossos adversários usam tecnologias de ponta e atuam de forma transnacional nos mais sombrios becos da Dark Web e, sem quaisquer amarras normativas ou burocráticas, têm fôlego e agilidade para investir em sofisticados aparatos. Como agravante, soma-se ainda a escassez global de mão-de-obra especializada em cibersegurança, o que aumenta riscos substancialmente, impactando cadeias produtivas e o bem-estar dos cidadãos.

A pesquisa demonstrou isso claramente, ao detectarmos, nas 20 organizações de infraestrutura crítica analisadas, incluindo agências públicas reguladoras, empresas de utilidade pública, setor financeiro, telecomunicações e transporte aéreo, por exemplo, mais de 3,7 mil  falhas críticas, além de outras 13,7 mil falhas de segurança de menor gravidade, demonstrando a vulnerabilidade de infraestruturas essenciais no Brasil e que representam a elite do ambiente de negócios brasileiro. E, isso, em apenas 48 horas de varredura.

A boa notícia é que temos um grupo formado por 150 dos mais proeminentes especialistas do mundo no assunto, e do qual participamos, inserindo o Brasil nesta cúpula global contra o cibercrime. Estivemos reunidos semana passada em Genebra, na Suíça, discutindo em alto nível a cibersegurança no que tange às preocupações sistêmicas com o planeta, uso da inteligência artificial, tecnologias quânticas, entre outros aspectos.

Por fim e com serenidade, a complexidade da cibersegurança nos desafia constantemente e é preciso encarar essa realidade como um chamado à conscientização e à ação coletiva. A segurança cibernética não é apenas uma preocupação técnica; é um imperativo social que demanda educação em todas as camadas de competência, e governança de riscos por parte das instituições, trazendo resposta coesa e contínua em prol de todo o planeta. Que venham os novos avanços!

 

*Professor Humberto Luiz Ribeiro, engenheiro pós-graduado em gestão  (INSEAD, MIT, Wharton e Georgetown) e curador de programas de inovação e empreendedorismo no Brasil e no exterior

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