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A outra independência (por Gustavo Krause)

No presente, os tempos são sombrios, mas o futuro é uma questão em aberto que depende das nossas escolhas

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Hugo Barreto/Metrópoles
Desfile militar na frente do Palácio do Planato
1 de 1 Desfile militar na frente do Palácio do Planato - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O Bicentenário da Independência do Brasil inspirou o lançamento e relançamento de obras sobre o evento histórico. Atento ao curto espaço, dediquei algumas reflexões ao livro Adeus Senhor Portugal (Ed. Companhia das Letras) de Rafael Cariello e Thales Zamberlan Pereira e ao relançamento de A outra Independência: O Federalismo Pernambucano de 1817 a 1824 (Todavia) de Evaldo Cabral de Mello.

Ambos se distanciam da historiografia clássica marcada pela visão riocêntrica e centralista. Cariello e Zaberman enfatizam a crise fiscal que mobilizou a nascente “cultura política”, arejada pelas ideias iluministas e pela agonia do absolutismo.

De um lado, gastos extravagantes, uma burocracia parasitária e a corrupção emergente (relatório de Cailhé de Geine para o Intendente Paulo Fernandes), provocavam “ódio” e “cega prevenção” na opinião pública; de outra parte, as províncias do norte, notadamente Pernambuco, financiavam o déficit fiscal do erário e a iluminação do Rio de Janeiro, extorquindo impostos sobre a produção algodoeira.

Com precisão, os autores descrevem o cenário que precedem revoluções liberais: “gastos do governo, déficits crescentes, empréstimos do erário ao Banco do Brasil, emissão descontrolada de papel-moeda, inflação, aumento dos preços e serviços – aluguéis e alimentos – perda de poder de compra das famílias e falta de pagamento por parte do governo”.

Sobre a obra de Evaldo Cabral de Mello, a prefaciadora, Heloísa Starling, afirma: “A Outra Independência é um livro fundador: revela a existência, entre 1817 e 1825, uma alternativa concreta ao processo de emancipação como empresado no Rio de Janeiro”.

O autor identifica esta alternativa no “ciclo revolucionário da independência” que continha um projeto de País: emancipado, republicano e autonomista. É injusta a pecha separatista imputada a Pernambuco. O ideal de autonomia preconizava a ampliação do poder local, opondo-se à matriz centralizadora e autoritária consagrada na constituição outorgada pelo Imperador: déspota no Brasil e liberal em Portugal.

As lutas libertárias de 1817 e 1824 – a “Revolução dos Padres” e a Confederação do Equador – foram severamente reprimidas, porém, imortalizadas em Frei Caneca. Além do sangue derramado, o território pernambucano foi esquartejado com a perda das comarcas de Alagoas e do São Francisco.

O baiano Cipriano Barata, notável defensor da liberdade, observou: “É certamente Pernambuco a província […] mais ciosa de sua liberdade e por isso a mais abundante de sucessos políticos e a mais capaz de servir de farol ao espírito público do Brasil inteiro”.

No presente, os tempos são sombrios, mas o futuro é uma questão em aberto que depende das nossas escolhas.

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda

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