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A ONU na mira do lucro (por Felipe Sampaio)

Não é de estranhar que as equipes e as tropas de paz da ONU sejam vítimas recorrentes em conflitos armados

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1 de 1 Imagem colorida mostra Em seu discurso na ONU, Lula falou sobre matriz energética, Amazônia, Ucrânia e desigualdade - Metrópoles - Foto: Reprodução/YouTube

Os números assustam. Em Gaza, 130 funcionários da ONU já foram mortos e umas 50 bases da entidade na região foram atacadas, inclusive hospitais e abrigos. Mais espantoso ainda é que não foi o Hamas que atacou, e sim o governo israelense.

Notem que a naturalidade com que se admite as baixas do pessoal das Nações Unidas no conflito de Gaza só é superada pelo desleixo em relação aos “efeitos colaterais” dos bombardeios que já mataram e mutilaram milhares de civis (na maioria, mulheres e crianças).

Não é a primeira vez que a ONU é alvo de violência. Na guerra do Iraque, sua sede em Bagdá foi arrasada por uma bomba que matou dezenas de funcionários, entre eles o brasileiro Sergio Vieira de Melo, chefe do escritório. Não havia nenhum esquema de segurança para o prédio da ONU por parte das forças de ocupação ocidentais.

Não é de estranhar que as equipes e as tropas de paz da ONU sejam vítimas recorrentes em conflitos armados. Afinal, ela foi criada para evitá-los e isso deve desagradar os interesses políticos e econômicos que motivam as guerras.

A Organização das Nações Unidas surgiu ao final da II Guerra Mundial que (somada à I Guerra) acabara de deixar a Europa e o Japão em ruínas, com um saldo de 80 milhões de mortos. Seu propósito seria moderar as tentações belicosas de seus sócios fundadores e aliados.

Por isso mesmo, a instância central da ONU é o Conselho de Segurança. Mas, outros departamentos foram criados para promover a coesão entre os povos e a redução de desigualdades, como o PNUD, a UNICEF, UNESCO, UNCTAD, ACNUR, UNODC, OIT, FAO e a OMS.

Porém, parece haver algum desconforto crescente com a existência de um organismo como a ONU. Aí pode estar a causa desse aparente conformismo com as agressões aos seus representantes e suas instalações, a exemplo do que acontece também com jornalistas, ambientalistas e ativistas de direitos humanos.

As equipes da ONU dão visibilidade a tragédias políticas como, por exemplo, o fato de uma criança ser morta a cada 10 minutos em Gaza, ou a migração forçada de 700 crianças por hora no Sudão, ou ainda a iminência de extinção em massa de 3/4 das espécies da Terra pelo caos climático.

Enquanto isso, os desafios da humanidade avançam a galope e as soluções passam inevitavelmente por um esforço solidário e coletivo. E, para isso, a melhor invenção dos últimos cem anos continua sendo a ONU.

 

Felipe Sampaio: chefiou a assessoria dos ministros da Defesa (2016-2017) e da Segurança Pública (2018); cofundador do Centro Soberania e Clima; foi secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife; atual diretor do SINESP no ministério da Justiça e Segurança Pública.

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