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A lição da invasão do Capitólio para a democracia no Brasil e no mundo

As instituições precisarão se manter em sentinela ininterrupta para domar os avanços de Bolsonaro

atualizado

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Após invasão, entidade sugere criar uma “fortaleza” ao redor do Capitólio
1 de 1 Após invasão, entidade sugere criar uma “fortaleza” ao redor do Capitólio - Foto: Deezen/Reprodução

Editorial de O Globo (6/1/2022)

A turba violenta que, há exatamente um ano, invadiu o Capitólio, em Washington, para tentar impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden sobre Donald Trump, vem sendo punida. Embora ainda haja 250 foragidos flagrados em imagens cometendo crimes, pelo menos 725 vândalos foram detidos, 165 se declararam culpados e 71 já foram condenados (cerca de metade à prisão). Mas a ferida aberta pela tentativa de golpe na democracia mais longeva do planeta está bem distante de ter cicatrizado. Persistem, além dela, os efeitos nefastos nos demais regimes democráticos — em particular no Brasil de Jair Bolsonaro.

De acordo com o levantamento da Freedom House, a democracia vem recuando no planeta há 15 anos, depois de um período ininterrupto de expansão entre os anos 1970 e a crise financeira de 2008. O recuo nos Estados Unidos, outrora exemplo de estabilidade institucional, tem um significado maior. Que autocratas como Vladimir Putin ou Nicolás Maduro manipulem o resultado das urnas de acordo com seus interesses é lamentável, mas esperado. Que um terço dos americanos ainda acredite que a eleição de Biden foi roubada e outro terço admita que a violência contra o governo pode ser justificável não é apenas inesperado, mas põe em xeque um símbolo tido como inabalável. “A credibilidade dos Estados Unidos em sustentar um modelo de boas práticas democráticas foi estraçalhada”, escreveu o cientista político Francis Fukuyama.

A noção de que o Partido Republicano se afastaria de Trump para preservar suas credenciais democráticas se revelou uma ilusão. Poucos meses depois do 6 de Janeiro, o trumpismo voltava a predominar entre os republicanos. Contestar a vitória de Biden com base nas mesmas fabulações que incitaram os invasores do Capitólio — disseminando o que os historiadores têm chamado de “grande mentira” — tornou-se, mais que aceitável, uma espécie de passaporte para o sucesso no partido.

Os republicanos despontam como favoritos nas eleições de meio de mandato deste ano, com chance de recuperar o controle da Câmara e do Senado. Trump tem articulado sua volta como candidato à Presidência em 2024. Os tropeços de Biden — da retirada atabalhoada no Afeganistão à dificuldade de consolidar o apoio de seu próprio partido à agenda legislativa — garantem que, no mínimo, será uma eleição disputada. A volta de Trump representaria, na prática, um baque definitivo na democracia americana.

A mesma estratégia de contestar resultados eleitorais sem nenhuma base factual vem sendo cevada pelo bolsonarismo com sua campanha contra as urnas eletrônicas. Ainda que Bolsonaro tenha recuado depois dos comícios golpistas do Sete de Setembro, é insondável que tipo de plano ele tem para o caso de derrota nas eleições deste ano. A invasão do Capitólio demonstrou que a ruptura não pode ser descartada nem nos Estados Unidos. No Brasil, as instituições precisarão se manter em sentinela ininterrupta para domar os avanços de Bolsonaro.

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