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A herança (por Eduardo Fernandez Silva)

Como viverão nossos filhos e netos, hoje com menos de 10 anos de idade, em 2050

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Mulher bebendo na seca ONU - Metrópoles
1 de 1 Mulher bebendo na seca ONU - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Como viverão nossos filhos e netos, hoje com menos de 10 anos de idade, em 2050. A previsão do futuro é sempre arriscada, porém necessária. Não fosse assim e não teríamos governos, empresas e entidades em geral gastando tempo e recursos para se prepararem para o futuro. Uma das técnicas utilizadas para tal é a de construção de cenários, em que as consequências de algumas tendências são exploradas.

Já em 2012 a OCDE explorava as tendências do ambiente em que nossos filhos e netos viverão, naquele ano que se aproxima velozmente. São dois cenários: o primeiro sem, e o segundo com novas políticas, ou seja, políticas muito diferentes das atuais.

Sem mudanças radicais nas políticas hoje predominantes mundo afora, o retrato projetado é: a população do planeta deverá estar entre 9 e 10 bilhões de humanos, a menos, é claro, que a imensa estupidez e ambição de governantes e chefes de empresas nos submetam a uma guerra nuclear. Mais de um quarto da população nos países da OCDE terão mais de 65 anos de idade, contra 15% atualmente. O uso de energia deve crescer 80%, com a parcela de fósseis semelhante à atual, em 85%. A emissão de gases de efeito estufa aumentará em 50%.

A concentração desses GEE elevará a temperatura global entre 30 e 60C. A biodiversidade terrestre e a área de florestas devem cair entre 10 e 15%. A indisponibilidade de água deverá afetar adicionais 2,3 bilhões de pessoas, levando 40% da humanidade a habitar bacias hidrográficas sob severa restrição hídrica; naquele ano, 1,4 bilhão ainda não terão saneamento. A poluição do ar terá se tornado a principal causa de mortalidade prematura. As mortes por exposição ao ozônio e a material particulado mais que dobrarão.

Claro, não precisamos continuar a repetir as políticas que nos trouxeram ao limiar desses desastres. Podemos e devemos, rapidamente, alterá-las. Embora os caminhos não estejam plenamente delineados, sabemos que os objetivos são parar de usar os combustíveis fósseis, acabar com a prática de projetar produtos para que durem pouco, substituir a “moda” pela durabilidade, o desperdício pela conservação etc., etc. Noutras palavras, temos que mudar a nossa civilização, consciente e deliberadamente, para evitar que ela mude de maneira violenta e ainda mais injusta do que já é.

A OCDE não é a única organização a tentar visualizar as consequências da manutenção do business as usual, ou seja, de se continuar a fazer as coisas como elas têm sido feitas há décadas. A própria ONU, além da maioria dos cientistas, nos alerta sobre a necessidade de mudarmos, radicalmente, as políticas predominantes, como forma de tentar evitar deixar aos filhos e netos uma herança dantesca.

No Brasil, e na maioria dos demais países, continuamos a trilhar os batidos e equivocados caminhos do passado. Espera-se que a cura surja da aceleração das práticas que trouxeram a doença, atitude que sinaliza perda da capacidade de raciocinar. É, também, o que têm feito nossos governantes, categoria que inclui eleitos, empresários, jornalistas, magistrados e outras “autoridades”. Não todas, é claro, mas a maioria delas.

Saber por que agem assim é um desafio. Psicopatia? Miopia? Um distúrbio de personalidade que os faz crer que mesmo quando a maioria se dana eles estarão bem? Afinal, postergar ações inovadoras e concretas para mudar, radicalmente, as políticas que têm sido adotadas, é contra os interesses inclusive dos governantes. Infelizmente, porém, esta não será a primeira vez que esses seres doentios optam por continuar a marcha da insensatez.

À custa do futuro de muitos de nós e, certamente, do de nosso filhos e netos!

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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