A fatura de Bolsonaro para Pacheco (por João Bosco Rabello)
Pacheco precisa decidir entre sua candidatura à Presidência ou à reeleição ao cargo que ocupa, para a qual dependerá do apoio de Bolsonaro
atualizado
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O convite do presidente Bolsonaro a Alexandre Silveira, do PSD mineiro, para o cargo de líder do governo no Senado, é um movimento estudado desde a nomeação de Antônio Anastasia para o Tribunal de Contas da União.
Suplente, Silveira assumiu a vaga do conterrâneo que virou ministro, em operação montada por Pacheco. A base do governo votou em Anastasia na disputa vitoriosa que travou com a senadora Kátia Abreu e com o então líder de Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra, que renunciou ao cargo após a derrota. Por um placar humilhante.
A fatura chegou e representa um xeque no xadrez eleitoral do PSD. O convite a Silveira encontra o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na muda, em reflexão entre manter sua candidatura à sucessão de Bolsonaro ou à reeleição ao cargo que ocupa, para a qual dependerá outra vez do apoio do governo. E adiciona pressa à decisão do presidente do Senado.
Esse é o dado que leva o presidente do PSD, Gilberto Kassab, a admitir uma decisão de Pacheco, antes estimada para março, ainda em fevereiro. Para a estratégia do presidente do PSD, que lançou a candidatura presidencial de Pacheco justamente como forma de blindar o partido de apoio a candidatos à presidência no primeiro turno, o convite é uma pedra no caminho.
Até aqui, Kassab trabalhava para estender ao máximo a candidatura de Pacheco, que precisa formalizá-la – ou a ela renunciar. O convite de Bolsonaro não só estreita o prazo como também antecipa em parte a orientação do PSD na disputa presidencial.
Com Silveira de líder do governo, o partido se associa à aliança onde já está o Centrão. A recusa ao convite evita essa associação, mas se não diz para onde Kassab vai, diz para onde não vai. A vantagem de estar com o dono da caneta, por mais que efêmera venha a ser, se daria já com a campanha em curso, o que seria um enorme problema para os planos do PSD.
Do ponto-de-vista estrito de Rodrigo Pacheco, a liberação do aliado significaria sua opção pela reeleição à presidência do Senado, não sem danos internos no PSD, onde uma parcela minoritária quer Silveira na liderança do governo.
Como qualquer decisão não evitará problemas, a tendência é de a cúpula partidária raciocinar com a chamada política de redução de danos, o que levaria à recusa ao convite do presidente. Ela pode dificultar uma eventual disputa de Pacheco pela reeleição ao cargo, mas o preserva com boas chances.
Já aceitar a liderança do governo no Senado afeta a estratégia presidencial de Kassab, que visa a colocar o PSD como um fiel de balança no Congresso de 2023.
Seria trocar alguns meses em um governo em fim de mandato, em descendência nas pesquisas e com alto índice de rejeição, por quatro anos futuros. De uma forma ou de outra, o PSD será partido importante no parlamento para o governo que vier, inclusive se for o de Bolsonaro.
Mas chega om cacife maior se evitar o desgaste do último ano de um governo em declínio, com péssimos números.