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A falácia da frescura (Por Miguel Esteves Cardoso)

É impossível que partamos para a vida cheios de opiniões incorrectas que se vão corrigindo à medida que nos aproximamos da morte

atualizado

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Agência Brasil
A imagem mostra duas manifestações, uma de esquerda e outra de direita, em momentos diferentes -- Metrópoles
1 de 1 A imagem mostra duas manifestações, uma de esquerda e outra de direita, em momentos diferentes -- Metrópoles - Foto: Agência Brasil

Não ser de esquerda aos 25 anos revela falta de coração, mas continuar a ser de esquerda depois dos 35 revela falta de cabeça.

Diz-se isto de muitas maneiras, mas é óbvio que são os direitistas que gostam de dizer isto – sobretudo os que se estrearam como esquerdistas do pior.

Invocam a progressão etária para justificar o retrocesso ideológico: “Não sou eu que sou incoerente. Não sou eu que sou traidor. Foi a idade a fazer das suas: tanto dá para a artrose, como para o PSD.”

A ideia é que os impulsos generosos da juventude se vão desvanecendo com a experiência: a realidade encarrega-se de substituir o máximo de altruísmo por um mínimo de egoísmo.

Um conservador gosta que assim seja: assim como há um lugar para todos, há uma idade para tudo.

Mas hoje ocorreu-me um pensamento congelante: e se estivéssemos todos não só enganados, como permanentemente enganados?

O erro que todos fazemos, sejamos de esquerda ou de direita, optimistas ou pessimistas, burros ou inteligentes, bonzinhos ou maus como as cobras, é este: pensamos sempre que a nossa opinião mais recente é a melhor.

Pensamos que, como vivemos mais tempo, e temos mais experiência, e pensámos mais no assunto, é natural que a nossa opinião mais recente – a opinião que temos agora – seja aquela que mais probabilidade tem de corresponder à realidade.

Por isso é que os músicos e escritores gostam sempre mais do disco ou do livro mais recente. Por isso é que as pessoas agem e falam como se tivessem atravessado a vida inteira para chegar àquele comportamento e àquela conclusão.

É a maior falácia de todas – porque não pode ser verdade. É impossível que partamos para a vida cheios de opiniões incorrectas que se vão corrigindo à medida que nos aproximamos da morte.

Há o vinho do Porto, é verdade, mas as coisas, regra geral, não melhoram com o tempo – e o mau vinho do Porto também não.

Porque é que as opiniões hão-de ser diferentes?

Sabemos lá se era aos 14 anos que tínhamos razão

(Transcrito do PÚBLICO)

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