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A economia na encruzilhada da política (por Leonardo Barreto)

É possível deduzir que o mercado vê com bons olhos a combinação entre reformas liberalizantes e conforto social

atualizado

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Dinheiro, Economia, Bolsa de Valores, Real, aumento, Baixa, money, gráficos – PIB
1 de 1 Dinheiro, Economia, Bolsa de Valores, Real, aumento, Baixa, money, gráficos – PIB - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Neste final de semana, o jornal Estadão ouviu seis economistas sobre as razões do crescimento do PIB acima das expectativas. Foram entrevistados: Alessandra Ribeiro (Tendências), Mario Mesquita (Itaú), Solange Srour (Santander), Caio Megale (XP), Ana Paula Vescovi (Santander) e Armando Castelar (FGV). Além deles, escreveu sobre o tema o economista Paulo Gala (Banco Master), no site da CNN.

A partir da contribuição de cada um, é possível montar uma matriz de força, fragilidade, oportunidade e ameaça e ter um quadro objetivo sobre como o mercado percebe a economia. A partir daí, também é possível extrair uma agenda política com sugestões de caminhos a serem seguidos e evitados. Para o leitor que não é trader, este é o mapa a partir da qual a Faria Lima molda seu humor, na medida em que Brasília se afasta mais ou menos dos consensos construídos em São Paulo.

No campo dos pontos fortes, o aquecimento da economia brasileira tem como razões estruturais reformas realizadas pelos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, entre elas a reforma da Previdência, a Trabalhista e a abertura de setores regulados para o investimento privado, como o setor de saneamento. Em conjunto, essas medidas teriam trazido o crescimento do PIB potencial para a casa de 1,5 e 2%.

No campo da conjuntura, há o reajuste da economia no período pós pandemia, com aumento do consumo das famílias e consequente aquecimento do mercado de trabalho, um desempenho importante do agro em 2023, que atingiu “seu pico de oferta” e, principalmente, um choque expansionista de gastos do governo com destaque para transferência de renda via programas sociais, política de crescimento real do salário-mínimo e seus impactos sobre outras despesas, como a Previdência.

A percepção de fragilidade do PIB está ancorada fortemente em aumento de gastos públicos e consumo sem evolução da produtividade e da taxa de investimentos, que segue abaixo de 17%, embora Paulo Gala tenha destacado que, na comparação anual, a formação bruta de capital fixo cresceu 5,7%. Esta é a principal fragilidade da dinâmica do crescimento econômico, além da ausência de um horizonte de estabilização da dívida pública, que serve para reprimir a confiança dos agentes.

No campo das ameaças está destacada com letras garrafais a incerteza política, que se encontra disseminada por todo o sistema. Desde o aumento das tensões institucionais entre facções políticas e os poderes, até o voluntarismo do governo de mudar regras de setores econômicos na base da canetada ou intervindo em agências regulatórias, aumentando a imprevisibilidade do ambiente de negócios.

Além disso, a pressão inflacionária e a necessidade de aumentar juros é uma condição dada como certa por todos se o governo não quiser conviver com taxas na casa de 5 e 6% já em 2025.

Por último, como oportunidade, o principal elemento identificado é a simplificação tributária promovida pela reforma, que pode ser concluída neste ano, e a chance de haver uma redução no ritmo de crescimento de despesas por iniciativa do governo. Haveria uma agenda de resgate de confiança na alteração da estrutura de gastos a partir da mudança de critérios de indexação de despesas obrigatórias, mas, como o governo não quer ouvir falar disso, essa possibilidade sequer é levantada pelos economistas, que só medem o que conseguem ver.

É possível deduzir que o mercado vê com bons olhos a combinação entre reformas liberalizantes e conforto social trazido por políticas de transferências desde que haja sustentabilidade das contas públicas. A Reforma Tributária, nesse sentido, e modificações da estrutura de gastos obrigatórios garantiriam a continuidade desta trajetória, dando impulso forte para os próximos anos.

O risco, por outro lado, reside na desconfiança por parte do mercado de que o governo submeta a agenda econômica a objetivos políticos menores, não reconheça o aprendizado institucional de experiências anteriores e aposte em uma trajetória insustentável de gastos como forma de vencer os conflitos institucionais nos quais está envolvido, priorizando apenas a recondução em 2026.

Nosso caminho está em algum lugar entre estes dois destinos da nossa encruzilhada política.

 

Leonardo Barreto – Doutor em Ciência Política (UnB) e proprietário da Think Policy, consultoria de políticas públicas e risco regulatório.

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