A economia do futuro (Por Eduardo Fernandez Silva)
Uma questão que, infelizmente, não faz parte da agenda política do Brasil
atualizado
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Para os humanos, se houver futuro, ele será baseado numa economia circular de zero carbono. Negar isso é ignorar os fatos. A corrida nesta direção já começou, apesar de resistências e passos falsos. Como ser competitivo nessa corrida?
Recente estudo apresentado em Davos identifica tecnologias e políticas públicas que podem acelerar tal transição. São “pontos de inflexão”: tecnologias limpas que já se tornaram ou estão a ponto de se tornarem mais competitivas que as sujas, precipitando a substituição destas por aquelas. A análise identifica ainda políticas públicas que contribuem nesse sentido, as quais, no entanto, estão ausentes ou são por demais tímidas no Brasil.
Por exemplo, em 2021, em países que representam 90% do consumo mundial de eletricidade, a geração adicional por solar e eólica já era mais barata que as fontes tradicionais; mais de 75% da capacidade então adicionada foi daquelas fontes (semi) limpas. Não obstante, interesses estabelecidos e legislação arcaica podem atrasar e até reverter a adoção das novas tecnologias. É vital, pois, ultrapassar o “ponto de inflexão”, uma vez que, além dele, os incentivos redefinem-se favoravelmente à nova solução. Dar esse “empurrãozinho” é papel do governo, como fizeram e fazem os países que possibilitaram aos seus cidadãos uma elevada qualidade de vida.
Os dirigentes do Brasil, há anos, não preparam o país para a nova economia, fato agravado pela obtusidade do último presidente. Mais uma oportunidade perdida! Para comparar, hoje, na China, mais de 50% dos ônibus urbanos são elétricos e, aqui… o Patropi segue deitado em berço outrora esplêndido, hoje cada vez mais degradado!
Tendo claro o objetivo de construir uma economia circular e de baixo carbono, investimentos direcionados, impostos ajustados, regulações favoráveis, novos negócios e campanhas de comunicação podem alterar a estrutura de benefícios e penalidades para apoiar ações compatíveis com aquele propósito. O Brasil passará a ter o que não tem hoje: um norte, um rumo favorável à economia do futuro. É o “círculo virtuoso” que se deseja! Exemplo: estimados 30% da produção de alimentos no Brasil são desperdiçados, e a carência e alto custo de fertilizantes é conhecida. Além de pesquisas, quais as ações desejáveis e viáveis para aproveitar, como adubo, aqueles orgânicos desperdiçados?
Além de ações para reduzir custos, diz o estudo mencionado, outros passos serão necessários para elevar a atratividade das opções circulares de zero carbono. Exemplo: como convencer a população das vantagens de uma alimentação menos geradora de gases de efeito estufa? Como acelerar a eletrificação da frota de caminhões?
São questões que, infelizmente, não fazem parte da agenda política brasileira. E tal ausência nos condena a permanecermos como uma nação que não possibilita aos seus cidadãos desfrutar de elevada qualidade de vida!
Eduardo Fernandez Silva é Mestre em economia e ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados