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A descoberta da Amazônia (por André Gustavo Stumpf)    

Se a Amazônia é uma grande área desconhecida dos brasileiros, os índios constituem uma incógnita ainda mais ignorada

atualizado

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Presidente Lula em visita a Terra Yanomami - Metrópoles
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Quando Márcio Souza, amazonense, escritor, diretor de teatro, crítico de cinema, autor do conhecido e festejado livro “Galvez, o Imperador do Acre”, foi convidado pela Universidade de Berkeley, na California, para ministrar curso sobre a Amazônia, ele descobriu que não havia uma única obra sobre história desta imensa e rica região. O professor organizou a primeira história geral da Amazônia numa edição de mimeógrafo para seus estudantes californianos.

Depois de várias versões, ele concluiu sua “História da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século XXI”, editora Record, 2019. A questão dos índios amazônicos, especificamente dos ianomanis, se insere dentro do desconhecimento generalizado da região. No entanto, pilantras de diversas nacionalidades perceberam meios de gerar renda. Por exemplo, ingleses se depararam, séculos atrás, com indígenas jogando esporte parecido com futebol na Amazônia ocidental. A bola quicava e tinha elasticidade. Descobriram a seringueira. Levaram sementes para a Malásia e destruíram importante atividade comercial da região.

Os índios sempre constituíram uma espécie de ser humano que não encontra explicação razoável nos chamados civilizados. O Marechal Candido Mariano da Silva Rondon andou pela selva fazendo contato com índios arredios. Mas o militar era uma ilha entre seus colegas. Ele criou a primeira reserva indígena. No entanto, o branco chamado civilizado não compreende e nem aceita povos sem propriedade privada ou moeda, que não negocia mercadorias. Além disso, a sabedoria de seus anciãos sabe misturar ervas que produzem curas milagrosas. Vez por outra, grandes laboratórios multinacionais recorrem a produtos amazônicos para produzir remédios que rendem milhões de dólares.

Se a Amazônia é uma grande área desconhecida dos brasileiros, os índios constituem uma incógnita ainda mais ignorada. Os exemplos do continente americano não são edificantes. Os norte-americanos fizeram da conquista do oeste um exercício de matança de índios. O general Custer dizia que “índio bom é índio morto”. Os argentinos também trataram de exterminar os povos originários desde os patagones até os fueguinos, da Terra do Fogo.

A alegada ignorância sobre o que se passa na Amazônia incentiva as práticas de uma terra sem lei. Vigora a opinião do mais forte, dos mais armados e daquele que tem mais dinheiro. O garimpo é atividade especial. Envolve risco, investimento importante, coragem e disposição para viver de maneira precária. Naturalmente produz riqueza. Ouro tem valor em qualquer lugar do mundo, em qualquer latitude, em qualquer situação. No Brasil e no exterior. Garimpeiro sabe do risco, mas conhece a extensão do ganho. Com uma vantagem: Ninguém paga imposto. E há muitos garimpos porque há muito ouro.

Os ianomanis estão localizados no norte de Roraima, ao redor do grande rio Uraricoera. A reserva fica próxima da BR 174, que liga Boa Vista a fronteira com a Venezuela. Estrada boa, asfaltada. Quem quiser, pode viajar por terra até Caracas. Já fiz essa aventura. Beleza de paisagem na grande savana, na Venezuela. A principal atividade econômica na região é ouro e a extração de diamantes. A riqueza da Amazônia é indescritível.

Aos olhos dos brancos e do finado governo Bolsonaro os índios atrapalham o progresso e o desenvolvimento da região. O resultado é este: mais de mil indivíduos daquela etnia foram internados em hospital de campanha da Aeronáutica, em Boa Vista, em situação crítica de saúde. Segundo informações do Ministério dos Povos Indígenas cerca de 570 crianças morreram nos últimos meses por doenças, fome ou contaminação por mercúrio, utilizado pelos garimpeiros para separar ouro de outros minerais.

O chanceler alemão Olaf Scholz virá a Brasília para conversar com o presidente Lula sobre integração do Mercosul com a União Europeia. O brasileiro falou por mais de uma hora sobre o mesmo assunto por telefone com Emmanuel Macron, presidente da França. O acordo é vantajoso para as duas partes. Mas envolve, em primeiro lugar, a preservação da Amazônia e dos povos indígenas. Os europeus agora se preocupam com a matéria por causa do alegado aquecimento do planeta. E se não obtiverem garantias neste assunto, não haverá acordo.

Os brasileiros, no governo Lula, descobriram a Amazônia, perceberam a catástrofe dos ianomanis e a vasta corrupção ocorrida no propalado apoio aqueles indígenas. Há uma corrente de interesses escusos que vai desde o guarda da FUNAI até o poderoso político eleito para supostamente defender a região. Não há mais argumentos para esconder a ignorância sobre o que ocorre no norte do território nacional.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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