A COP27 e os estilos de vida (por Eduardo Fernandez Silva)
Hoje, a humanidade anda lentamente sobre os trilhos enquanto, atrás, em alta velocidade, vem a locomotiva da degradação ambiental
atualizado
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Há aqueles que saem de férias em aviões particulares. Tal estilo de vida é louvado e retratado como “o sucesso”, e quase todos são doutrinados a desejá-lo para si! O custo desse estilo de vida, porém, é a destruição dos sonhos e da realidade de todos, em razão da quantidade de dejetos lançados na biosfera, inclusive os gases que aquecem a terra. Aqueles que gozam desse estilo destrutivo de vida não chegam a 0,5% da humanidade. No entanto, as democracias ocidentais atendem, primeiramente, aos interesses de curto prazo desses, deixando agravar as condições atuais e as perspectivas de todos, degradação da qual não estarão isentos os membros do 0,5%! Como querem sobreviver tais democracias? E, pior, sem elas não há sequer o álibi de que se governa em benefício da maioria….
Nesse planeta cada vez menor há também aqueles que nem férias têm, vivem em insegurança alimentar e habitam tetos inseguros e desconfortáveis.
Estar no primeiro ou no segundo grupo depende de quem são seus pais, muito mais do que em qual país nasceram! As vidas dos animais humanos são muito diferentes. Dizer que o Brasil é pobre oculta a existência, aqui, de bilionários; no rico EUA há quem passa fome, e também nos milionários “petropaíses”!
Na Inglaterra foi feito estudo recente sobre quais grupos de renda mais emitem gases que aquecem o planeta. Lá, uma pessoa típica do 1% mais rico lança, em um ano, a mesma quantidade de GEE que uma pessoa do grupo mais pobre em 26 anos! A cada ano, as 670.000 pessoas mais ricas, que ganham acima de R$980.000,00, lançam mais carbono que as 30% mais pobres, ou 6,7 milhões, cujas rendas são inferiores a R$10.000,00 por mês.
Claro, o volume de emissão depende dos respectivos estilos de vida. A cada ano, menos da metade dos ingleses viaja de avião, enquanto 1% deles realizam 20% dos voos internacionais partindo da sua ilha. Voar, dirigir carros grandes e luxuosos, comer muita carne e importados, comprar mais e mais roupas e artigos de luxo e descartá-los, descartar ao invés de consertar os mais diversos produtos, são razões para os ricos emitirem mais GEE que quem não voa, não tem tanta roupa e anda de transporte coletivo.
A situação inglesa se repete em todos os países, uns mais outros menos, pois há semelhança entre os estilos de vida, alguns desejosos de um avião mais luxuoso ou um SUV ainda maior, outros buscando segurança alimentar e um abrigo mais seguro!
O problema se agrava porque a propaganda, além de não promover alternativas sustentáveis, criou na maioria desejos por um estilo de vida mais poluente.
Hoje, a humanidade anda lentamente sobre os trilhos enquanto, atrás, em alta velocidade, vem a locomotiva da degradação ambiental! No rumo em que estamos, tem sido lenta a redução da degradação humana e veloz a da biosfera, condenando nossos filhos e netos. Há que alterar rumos e desejos para que a democracia governe para a maioria, sobreviva e nos acomode à capacidade do planeta, para acelerar a melhora da qualidade de vida da maioria.
Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados