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A Conivência da Elite Brasileira (por Ricardo Guedes)

No Brasil, os grupos empresariais ao longo do tempo pouco se alteram, amparados na reserva de mercado concedida pelo Estado que dominam

atualizado

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1 de 1 desigualdade social - Foto: Agência estado

Elites fortes com valores definidos dão rumo a um país. Elites fracas desprovidas de valores podem deixar um país ir ao caos. O desfile militar no Planalto no dia da votação no Congresso do voto impresso é um ponto de inflexão em nossa história.

O Relatório sobre a Qualidade das Elites de 2020, que compara 32 países segundo a capacidade inclusiva e distributiva da riqueza através do estudo da tributação e legislação, atribui à elite brasileira a 27ª colocação, atrás da China, Portugal, Indonésia, México, Russia, India e Paquistão. Singapura lidera o ranking, seguida da Suíça, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. No caso brasileiro, não se trata de uma elite que possamos classificar como economicamente democrática.

Wright Mills, em Os Donos do Poder, diz que nas sociedades manda o poder econômico, garante o poder militar, excuta o poder político, e interfere o poder intelectual, notadamente representado pelas universidades e imprensa. E os políticos? Podem fazer o que quiserem, desde que não atrapalhem a reprodução do capital.

Segundo Phillipe Schmitter, emérito brasilianista, o Brasil é um dos casos mais bem sucedidos entre os países ocidentais de controle da política e da economia por uma elite, que se mantém no poder há mais de cem anos, com os partidos políticos representando, sob diferentes siglas e denominações, os interesses circunstanciais da elite dominante. No Brasil, os grupos empresariais ao longo do tempo pouco se alteram, amparados na reserva de mercado concedida pelo Estado que dominam.

Nos Estados Unidos, a elite empresarial em conjunto com os Generais do alto comando, com valores definidos, rechaçaram a tentativa golpista de Trump de alegação de fraudes nas eleições. No Brasil, o voto impresso tornou-se o calcanhar de Aquiles de nossa democracia. Em não tendo sido aprovado, é motivo para a alegação de fraudes. Se tivesse sido aprovado, qualquer discrepância acidental ou intencional em uma urna seria motivo para a alegação de fraudes. Sempre visando à quebra da ordem institucional.

Na Alemanha, Hitler chegou ao poder em 1932 através da eleição do Partido Nazista com 31% dos votos da população para o Parlamento, com discurso antissemita e anticomunista, e sequente intimidação dos políticos e das próprias elites que incialmente o apoiaram, fazendo uso pessoal da SS para a eliminação dos oponentes.

No Brasil, Bolsonaro foi eleito em 2018 com 32% dos votos totais da população no 1º turno, 39% no 2º turno, com discurso contra a suposta velha política e antissocialista. Hoje, conta com somente ¼ de apoio da população e rejeição acima de 50%. Hoje, Bolsonaro não se reelege.

Fica a cargo do Exército Brasileiro apoiar ou não a aventura autoritária de uma quebra institucional, desprovida de ameaças internas ou externas, em projeto simplesmente de poder pelo poder. Certamente, a corporação estará dividida, em sua maioria legalista.

 

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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