A cara da destruição (por Mirian Guaraciaba)
Nem os bolsonaristas mais radicais escaparão às más lembranças da gasolina a quase oito reais, pandemia e comércio quebrando
atualizado
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Nenhum brasileiro será capaz de esquecer o grande equivoco de 2018. Depois da ditadura militar, instaurada pós golpe de 64, temos vivido, sem dúvida, os piores momentos de nossa história. Agravados pelos descalabros provocados pela pandemia do Covid, mortes e sofrimentos evitáveis, não fosse o descaso visceral desse governo.
Nem os bolsonaristas mais radicais escaparão às más lembranças da gasolina a quase oito reais, botijão de gás a 120, comércio quebrando, desemprego nas alturas, fome e miséria se espalhando sem dó nem piedade pelas ruas das grandes e pequenas cidades.
Como esquecer?
Está ai, em pleno século XXI, a tragédia que se abate sobre o povo yanomami. Sem remédio para a malária, o único mal comprovadamente combatido pela cloroquina, os índios estão padecendo da doença, fome e desassistência. Velhos e crianças morrendo por inanição do governo.
Como não enxergar o desmatamento em série, boiadas pisoteando as florestas? Impossível não lembrar dos desvios morais e éticos da Fundação Palmares, e de seu presidente racista, fascista, inumano. Lancinante observar as tentativas de esfacelamento da cultura e da educação do País.
Isso sim tem a cara do Governo. Incontáveis infortúnios.
Bolsonaro tem a face da destruição, da ruína. A sua cara, sim, como ele pediu, é a do Enem que não trouxe uma palavra sobre pandemia ou fome. Aplicada nesse domingo, Covid 19 não existiu para os estudantes. Como inserir um tema que não preocupou o governo? Ah.. trouxe Chico Buarque, Raul Seixas, gado marcado, e cinco questões sobre escravidão e racismo. Não basta.
A crise no Enem e a exoneração de 37 servidores são fatos. A interferência do governo nas questões é inquestionável. Está proibida a palavra ditadura, e golpe deve ser substituido por “revolução”. Sim, essa é a cara de Bolsonaro. Cara da história distorcida, contada pelo avesso.
Ainda falta um ano e 38 dias para nos livrarmos dessa sarna. Mas a esta altura, em 2022, já teremos um novo presidente.
Dura missão de resgatar nossa dignidade. Quem sabe recuperar nossa alegria e o famigerado orgulho de ser brasileiro? Num País dilacerado pelo ódio, alforriar nossas almas já será um grande avanço. Com a cara da esperança, depois do flagelo.
Mirian Guaraciaba é jornalista