A alta do dólar no Brasil (por Ricardo Guedes)
A variação do dólar expressa, dentre outras variáveis, a eficácia e as expectativas em torno da política econômica e fiscal do governo
atualizado
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Politicamente, a equação é simples: ou o governo resolve os problemas econômicos e sociais do país, ou a direita volta.
Bolsonaro entrou no governo com o dólar em R$ 3,87 no final de 2018 e deixou o governo com o dólar em R$ 5,22 no final de 2022. De 2018 a 2022, o PIB manteve-se em US$ 1,9 trilhão, com 0% (zero) de crescimento acumulado nos quatro anos do governo em dólares correntes. Por falta de crescimento econômico, e erros na condução de políticas públicas, como no caso da COVID-19, e na tentativa da quebra da ordem institucional, perdeu as eleições para Lula em 2022, então com recall positivo de seu governo I e II, com relação ao crescimento econômico e solução de problemas sociais.
Com Lula no governo, o dólar chegou a R$ 4,72 no final de julho de 2023, seu valor mais baixo, devido às expectativas então positivas de seu governo e possibilidades de gerenciamento adequado do Arcabouço Fiscal. Com o dólar a R$ 4,84 no final do ano, para crescimento de 2,9% em moeda nacional e deflação de 7,9% do dólar no ano, o PIB de 2023 chega a US$ 2,1 trilhões. Mas as expectativas não perduraram ao longo de 2024, com a possibilidade de desequilíbrio fiscal, chegando o dólar a R$ 5,52 nesta 4ª feira, 26 de junho. A se manter no patamar de R$ 5,15 até o final do ano, conforme as expectativas no último Boletim Focus, com o aumento do dólar em 6,4% em relação ao final de 2023, e crescimento do PIB em moeda nacional de 2,05% neste ano, o PIB de 2024 poderá ficar em cerca de US$ 2,0 trilhões, com o crescimento pouco significativo do país em dólares correntes desde o início do governo Lula III. Se o ano fechar com R$ 5,30, entretanto, conforme avaliam hoje alguns analistas financeiros, o PIB em dólares correntes seria de US$ 1,9 trilhão, zerando o crescimento ao longo de todo o período do governo Lula III. O crescimento em moeda nacional estimula a economia a curto prazo, mas o aumento do dólar gera inflação cambial, já que dependemos da importação de insumos e equipamentos para a nossa produção, com o aumento líquido da economia pouco significativo em dólares correntes.
Falta ao governo Lula um plano de desenvolvimento econômico, com equilíbrio fiscal, que case nova oferta com nova demanda, e mediação política dentro do governo e junto ao Congresso, nas funções então desempenhadas por Henrique Meirelles e José Dirceu, executivos, conselheiros e moderadores junto a Lula, independentemente de juízos de valor. Nos governos Lula I e II foram introduzidos os programas sociais tendo como contrapartida o crédito para o parque industrial então ocioso, com equilíbrio fiscal, proporcionando o desenvolvimento.
Adam Przeworski define o erro em ciências sociais como uma relação tripartite entre os objetivos a serem alcançados, as decisões tomadas, e as condições externas às decisões que possibilitam ou não a sua viabilidade. Se o objetivo do governo Lula III era o do crescimento da economia, com a solução de problemas sociais, e a garantia de vitória nas próximas eleições presidenciais, as decisões foram equivocadas. Com relação à economia, não há mais tempo para mudanças radicais, ou de alterações de rumo. O melhor é mitigar os efeitos da falta de um programa de desenvolvimento econômico com políticas de médio e de curto alcance que tragam benefícios para a economia e a população, mesmo que paulatinamente, resguardado o equilíbrio fiscal. Com relação à política, há tempo ainda de melhorar a articulação dentro do governo e junto ao Congresso, com esforço na coordenação pessoal, na geração de benefícios para a economia e a população.
A lógica das eleições no mundo é simples: quando o PIB aumenta, o governante tende a se eleger. Quando o PIB não aumenta, o governante dificilmente se reelege.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago