7 de Setembro, eleições de 2022, e a Alemanha anos 30 (Ricardo Guedes)
Alguns autores têm comparado o Brasil atual e a Alemanha dos anos 30. Há similitudes e diferenças
atualizado
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O 7 de Setembro, como movimento proposto por Bolsonaro, não funcionou. Os apoiadores e o grupo de caminhoneiros que atenderam ao evento não foram suficientes, no momento, para a quebra da ordem institucional, talvez pelo posicionamento contrário do Exército, ou pelo recado das elites econômicas de São Paulo que possa ter estado implícito na conversa de Temer com Bolsonaro, como hipóteses. Caminhamos então para o ano eleitoral de 2022, em equilíbrio instável. O furo do teto de gastos com objetivos eleitorais completa o quadro desfavorável da política e economia, com perspectiva inflacionária.
Alguns autores têm comparado o Brasil atual e a Alemanha dos anos 30. Há similitudes e diferenças.
Eleitoralmente, Hitler foi eleito em 1932 com 31% do total de votos. Bolsonaro foi eleito em 2018 com 32% do total dos votos em 1º turno, 39% no 2º turno.
Economicamente, a Alemanha após a 1ª Guerra Mundial foi submetida ao Tratado de Versailles com pesadas indenizações, com a emissão de moeda e hiperinflação em 1922. No Brasil, governo Dilma precipitou o país em forte recessão econômica, com a queda do PIB em dólares correntes de 26% em 2015. Tanto na Alemanha como no Brasil, as novas lideranças surgiram baseadas no discurso do ódio, tendo por base a horda das classes médias iliteratas, base social do fascismo.
A ocupação de funções estratégicas pela área ideológica é comum aos dois sistemas. Na Alemanha, Hitler coagiu o Judiciário, intimidou o Parlamento e a elite econômica, suprimindo a imprensa. No Brasil, essas tentativas têm sido contrapostas pela resiliência do STF e do Congresso, como também pela manifestação da elite empresarial de São Paulo, com a resistência da imprensa do país. Na Alemanha, a ideologia política era centrada em Goebbels, Ministro da Propaganda. No Brasil, o suposto Gabinete do Ódio, conforme noticiado, gerencia a difusão de fake news contra os seus adversários.
Dentre os pontos críticos, o controle das forças militares e policiais é de suma importância para a análise. Na Alemanha, Hitler controlava diretamente a SS e o Exército. No Brasil, as milícias não são vinculadas ao Estado, o corpo do Exército, em sua maioria legalista, não é unitário em relação à quebra da ordem institucional, e as Polícias Militares, desde o Império, são de nomeação e gestão dos Estados, e não do Governo Federal. Na Alemanha, Hitler tinha o controle político da Gestapo. No Brasil, a Polícia Federal por força constitucional guarda significativa independência na atuação dos Delegados, constituída por grupos distintos ao longo dos diversos Governos.
Os fatos históricos não se repetem, mas os paradigmas sim. Ambas as estratégias, a eleitoral e a da quebra da ordem institucional, estão em curso. É a aposta no caos para soluções autoritárias. Urge a necessidade de salvaguardas para a democracia e economia brasileira.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus