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2022: “Quem” ou “Para Quê”? (por Eduardo Fernandez Silva)

Precisamos de algo que seja uma versão século XXI do mote de JK, “cinquenta  anos em cinco”, que, é bom lembrar, baseava-se em metas claras

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1 de 1 Da-esquerda-para-a-direita-Tico-Tico,-Carlos-Spera,-Juscelino-Kubitschek,–Edmundo-Monteiro-e-Ulisses-Guimarães - Foto: Reprodução

Há uma longa e danosa tradição em eleições no Brasil: discutimos “quem”, e não “para quê?” Enquanto for assim, o vencedor tomará posse compromissado apenas com o grupo que financiou sua campanha e “vendeu” seu nome à população. Nenhum compromisso com o País!

É preciso romper essa tradição; não discutir “quem”, mas “para quê”. Ou seja, definir objetivos claros, quantificáveis, repisados e detalhados durante a campanha, e que, por serem percebidos como melhorias sensíveis em sua qualidade de vida, atraiam os eleitores. Isso seria um primeiro passo de uma tão necessária reforma política. Eleito defendendo objetivos claros, será difícil para o ungido cometer mais um estelionato eleitoral.

Debater “o quê”, e não “quem”, ajudará a definir um rumo para este país à deriva; evitará lutar contra inimigos de ocasião; tenderá a dar coerência às ações dos vários órgãos e níveis de governo, gerando sinergia e minimizando os efeitos danosos da inevitável partilha do controle da máquina pública; será possível construir uma coalisão em prol daqueles fins. Sabendo os objetivos, ficará mais fácil identificar experiências exitosas e multiplicá-las.

Precisamos de algo que seja uma versão século XXI do mote de JK, “cinquenta  anos em cinco”, que, é bom lembrar, baseava-se em metas claras e quantificadas.

Se falamos em eleger A ou B, ao invés de “para quê”, o eleito terá uma agenda sua e dos seus, não do Brasil. Fatiará o controle da máquina pública para “comprar” apoio, terá dificuldades de fazer convergir as ações dos órgãos públicos e lançará programas vazios, tirados da cartola. O caos da pandemia demonstrou, mais uma vez, a importância da coordenação nacional para enfrentar os muitos e difíceis problemas que nos afligem.

Os verdadeiros inimigos são as desigualdades, a péssima qualidade da educação, da saúde, da Justiça, da mobilidade, da alimentação, da segurança; o desemprego, o desalento, os preconceitos, a violência. Para esses males, interligados e que se realimentam, quais seriam metas alcançáveis em quatro anos? E em oito ou dez? E para outros males que, embora urgentes e centrais ao século XXI, não estão na agenda política brasileira?

É necessário, ainda, romper outra tradição política danosa e levantar propostas para problemas reais embora não apontados, nas pesquisas de opinião, como prioridades. Por exemplo, gerar menos lixo, cidades mais humanas, defesas contra os algoritmos, tornar progressiva a estrutura tributária, etc.

Enquanto discutimos se A ou B, nada sabemos sobre como o eleito tratará esses temas. Daremos a ele carta branca, e adiaremos por mais quatro, oito ou mais anos qualquer possibilidade de sairmos do pântano em que nos colocaram aqueles que se elegeram mais pelo seu nome e imagem que por suas propostas.

 

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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