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Inadimplência entre idosos é a que mais cresce no país

De 2,2% entre maio de 2018 e o mesmo mês de 2019, quando se fala em pessoas acima de 60 anos o número é bem maior: 9,3%

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A inadimplência entre idosos é a que mais cresce no país. Dados levantados pela Serasa Experian e divulgados com exclusividade pelo Estado mostram que, enquanto o número de inadimplentes no Brasil aumentou 2,2% entre maio de 2018 e o mesmo mês de 2019, quando se fala em pessoas acima de 60 anos o número é bem maior: 9,3% – saiu de 8,7 milhões para 9,5 milhões de pessoas.

A Serasa mostra que na comparação de maio de 2018 a maio 2019 mais 809 mil idosos ficaram inadimplentes dentro de um universo de 1,4 milhão de novos inadimplentes. Isto significa que quase 60% dos novos maus pagadores têm mais de 60 anos. Ao mesmo tempo, os idosos, de acordo com a instituição, representam apenas 18% da população brasileira.

Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) confirmam esse cenário. No mesmo recorte de período, na comparação entre maio de 2019 e maio de 2018, a população idosa inadimplente cresceu 9,2%. No geral, o aumento no número de inadimplentes foi de 2,3%. A faixa de idade considerada pelo SPC é entre 65 e 84 anos.

Segundo especialistas, muitos idosos passam a integrar esta estatística após tomarem empréstimos consignados. Mas a inadimplência não ocorre por causa do empréstimo especificamente: como o consignado já é descontado no holerite da aposentadoria do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), a renda disponível diminui e o aposentado ficam sem dinheiro para pagar as contas do dia a dia, como as de água e luz e cartões de crédito.

Segundo o Banco Central, a taxa de juros ao ano para empréstimos consignados com desconto direto no benefício do INSS ficou, em maio passado, no patamar mais baixo da série histórica, iniciada em 2011: 24,34%.

O professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin explica que, nessa situação a tendência é que o aposentado veja mais vantagens em pegar o consignado. “Crédito mais barato favorece a tomada de empréstimo, independentemente da inadimplência. As pessoas compram as coisas quando ficam mais baratas. Com o crédito não é diferente.”

A afirmação de Rochlin é reforçada por outro dado do BC: maio de 2019 teve o maior saldo de volume de crédito da série histórica, que existe desde 2007, com mais de R$ 133 bilhões emprestados a aposentados do INSS.

Especialistas consultados pelo Estado dizem que também contribuem para o aumento da inadimplência entre pessoas com mais de 60 anos o cenário econômico do país – com 13 milhões de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e a inflação alta em produtos comprados mais frequentemente por idosos, como remédios e alimentos. O índice de preços para idosos, IPC-3i, medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), subiu 5,37% em abril de 2019 ante o mesmo mês de 2018, enquanto o IPC-Br, da FGV, que mede a inflação nacional, foi de 4,88%.

“A crise econômica aumenta o desemprego, afetando as famílias brasileiras. Isso fez com que chefes de famílias recorressem aos idosos como fonte adicional de crédito e de renda. Crédito consignado, principalmente. Um pai de família que perdeu emprego que tem pai, mãe, sogro, sogra que podem pegar crédito pedem ajuda. Isso aumentou o endividamento dos idosos”, diz o economista da Serasa Luiz Rabi.

Esse é o caso do aposentado João Timóteo, de 79 anos, que nos últimos cinco anos acumulou nove empréstimos no INSS, principalmente por causa de necessidade de parentes. “(Peguei empréstimo) Por causa dos gastos, tem filho, neto, e um precisa de uma coisa, outro precisa de outra. A gente sempre ajuda. Além de (contas de) água, luz e telefone, o ‘ranguinho’ do dia a dia. Precisa comprar remédio”, diz. As últimas parcelas dos empréstimos de Timóteo só vencem em 2022.

Ele diz que tem se “ancorado” em cartões de crédito: quando faz o pagamento do mês, já aguarda a liberação do limite para poder utilizá-lo novamente para despesas do dia a dia, como alimentação. Segundo o aposentado, não é possível cobrir esses gastos com o dinheiro da aposentadoria, que está em boa parte comprometida com os empréstimos. Além disso, Timóteo não aceita que os parentes paguem seus empréstimos, mesmo quando eles mesmos usam o dinheiro. “Dou um jeito. Se eles precisam, é porque também não podem pagar para a gente.”

Respondendo ao pedido da família
O educador financeiro do SPC Brasil Ricardo Vignoli explica que situações em que parentes pedem que o idoso faça um empréstimo para pagar suas contas precisam ser pensadas com calma. “O grande ponto, que é o mais difícil, é ter frieza, dar tempo para a cabeça, ‘pensar no travesseiro’. Quem vai pedir o dinheiro está preparado, montou o discurso, mas quem recebe o pedido é pego de surpresa e sente obrigação de dar a resposta. Não responda na hora. Isso é você pensar o dinheiro de forma mais racional, mais consciente”, diz.

Para o idoso não entrar em desarranjo financeiro, Vignoli orienta o aposentado a avaliar se é, de fato, necessário fazer o empréstimo para “se sentir tranquilo e feliz ou se sentir mais útil”.

Para quem se sente mais pressionado, por desemprego de um parente, por exemplo, o educador financeiro recomenda que o idoso avalie se o consignado vai ajudar mesmo ou se apenas vai fazer ambos, pai/mãe e filho quebrarem juntos. “Tem que ter a experiência de tentar entender a situação. Esse esforço vai resolver ou vamos afundar juntos? Tem que entender o que está acontecendo.”

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