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Quinta edição do MOTIM homenageia o clássico Música Para Antropomorfos

Entre os dias 2 e 4 de novembro, o evento oferecerá oficinas, shows, cursos, filmes e debates, além da tradicional feira

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A cada ano que passa, o MOTIM (em sua quinta edição) – Mercado de Produção Independente – ganha mais atrações, expositores e mais volume de eventos interessantes. Isso dota a cidade de Brasília com um rico panorama do que se faz nacionalmente (e de maneira descentralizada, frisa-se) em termos de produções gráficas incluindo zines, impressões, gravuras, fotografia e quadrinhos.

Em 2018, entre os dias 2 e 4 de novembro, este excepcional encontro das artes gráficas, que se apresenta sob o signo da revolta contra as publicações institucionalizadas por grandes lojas e editoras, vem mais bombado do que nunca, com, além da tradicional feira, oficinas, shows, cursos, filmes e debates. Houve também uma mudança de local, disseminando a ideia de um espraiar-se maior das atividades culturais no DF. O Ginásio Cave, no Guará, é a nova casa do MOTIM.

A programação é extensa e pode ser conferida no site oficial. Sem muita delonga, eu gostaria de apresentar aqui as minhas indicações pessoais para que o público saiba se guiar ao longo dos três dias de MOTIM. Há atividades formativas já rolando desde o dia 27 de novembro, então irei me concentrar no que estará acontecendo a partir do dia 2.

Dia 02/11, sexta-feira:
– Exposição Fora dos Planos – a tradicional mostra de pôsteres do MOTIM (em tiragem limitada, assinada e numerada, à venda) traz as visões de mundo de artistas excepcionais, como Bruno Maron, Caio Gomez, DW Ribatski, Fabio Zimbres, Lovelove6, Rafael Corrêa , Ricardo Coimbra e muitos outros. Vale desembolsar um $$$.

– Obra, música e filme: Música Para Antropomorfos – o relançamento deste já clássico romance gráfico dos ensandecidos Márcio Jr. (que, junto à banda goiana Mechanics, compôs a trilha sonora do gibi) e Fabio Zimbres (um herói cult do quadrinho brasileiro), pela editora Zarabatana, ganha destaque em grande estilo no MOTIM. Haverá show do grupo tocando as músicas, edição especial em vinil assinada por Zimbres e, no dia seguinte, exibição de O Evangelho Segundo Tauba e Primal (dirigido por Márcia Deretti e o mesmo Márcio Jr.), brilhante adaptação em animação do quadrinho.

MOTIM 2017

 

Dia 03/11, sábado:
– Curso “Mini Zines” (também no domingo), com o papa do do-it-yourself do quadrinho brazuca, Fabio Zimbres. 10h.

– Lançamentos de Amor Espiritual (11h), do sensível e experimental quadrinista paulista DW Ribatski, e de Até Aqui Tudo Bem (14h), do mais politizado gaúcho Rafael Corrêa.

Dia 04/11, domingo:

– O debate (11h) Fora dos Planos: potencial das feiras de publicações independentes para além da vendas discute a amplitude de eventos como o MOTIM Brasil afora.

– Lançamentos do colorista da Marvel Comics Felipe Sobreiro (Action Painters 2, 14h) e do enfant terrible das tiras de internet Bruno Maron (Dinâmica de Bruto 2, 16h), dão o tom dos quadrinhos no domingo.

– Exibição + sessão comentada de O evangelho segundo Tauba e Primal (17h) – seguindo as comemorações do relançamento de Música Para Antropomorfos, o novíssimo curta em animação baseado na obra (dirigido por Márcia e Márcio) será exibido, seguido de debate com os diretores.

– Festa SubVerso! No SubDulcina: confraternização, doideras, reunião massiva dos freaks e descolados que compõem a cena do MOTIM.

Crítica: Música Para Antropomorfos
De certa maneira, Música Para Antropomorfos, lançado em 2007 junto a um disco da banda goiana Mechanics (que lhe serve de trilha sonora), parecia predestinado a ser lido neste Brasil desmoronando entre 2014-2018 (e além). O fortuito relançamento da Zarabatana traz à tona novamente as virulências social e distópica (das mais caóticas já pensadas no Brasil) do quadrinho de autoria da banda (capitaneada por Márcio Jr.) e do idiossincrático Fabio Zimbres.

Música Para Antropomorfos, sumarizando, faz colidirem os mundos de dois robôs-cidades que atravessam paisagens alagadas e desoladas habitadas por animais estranhos. Dentro destes robôs (SP e SF, remetendo a São Paulo e São Francisco), duas sociedades igualmente desastrosas procuram sublimar, cada uma à sua maneira, o colapso de suas civilizações. Em SP, tecnocratas aplicam golpes e planos de governo inescrupulosos (além de estúpidos), que só servem para agravar crises sociais e políticas. Em SF, o microcosmo de uma editora, com sua fogueira de vaidades, expõe a veleidade das artes e o niilismo dos intelectuais em tempos de desmoronamento cultural.

A arte de Zimbres, caótica, dadaísta e por vezes aleatória, alcança de tudo: pode ser uma mimese perfeita das microestruturas das cidades; pode ser um desvario poético em forma de paisagens gráficas; e pode ser um duelo de epistemologias distintas a partir de tecnologias a Jack Kirby. Os diálogos revelam erudição, autoironia, paródias do linguajar burocrático e sacadas (com camadas de decifração) apelando para o anti-intelectualismo, sempre na chave anarquista que envolve qualquer aspecto do gibi.

Pode-se dizer que Música Para Antropomorfos envelheceu para ver sua cáustica visão do mundo tomar as tintas da realidade. O traço de Zimbres, que à época poderia ser considerado autista demais para quadrinhos “sérios”, está profeticamente em perfeita sintonia com a contemporaneidade. Às vezes, pode parecer Dilbert, de Scott Adams. Em outras, coisas posteriores: Dahmer, Gerlach. Em determinados momentos, antecipa o brilhantismo deprê da cultuada série BoJack Horseman. Definitivamente, uma lombada que andava ausente da prateleira dos grandes quadrinhos brasileiros recentes.

Música Para Antropomorfos

Uma pergunta para Márcio Jr. (co-autor de Música para Antropomorfos):

Música Para Antropomorfos saiu originalmente em 2006 e fala sobre uma distopia deflagrada na corrupção dos políticos, na violência e na degradação moral. Como esta HQ se atualiza considerando o cenário político atual do Brasil e do mundo?
O Brasil estava em outro momento quando criamos o Música Para Antropomorfos. As conquistas sociais e o fim da fome no país eram evidentes. Mesmo assim, o futuro nunca se apresentou como um conto de fadas. A distopia sci-fi criada por Fabio Zimbres – a partir das atmosferas musicais do Mechanics – trazia todo um conjunto de questões políticas: golpes de Estado, relações de poder, violência, caos urbano, guerra. Tudo isso tecido de forma notavelmente original.

Uma década depois, retomar o Música me causa assombro. Aquilo que se esboçava como uma elaboração ficcional ganha ares de previsão. Estamos muito próximos daquilo desenhado por Zimbres, e me parece que o pesadelo sonoro produzido pelos Mechanics é uma trilha sonora adequada ao momento fascistoide que vivemos.

A animação O Evangelho Segundo Tauba e Primal (dirigida por mim e pela Márcia Deretti, também será exibida no MOTIM) sintetiza a dualidade presente no Música e traduz nosso presente: uma disputa entre aqueles que buscam a liberdade e a vida, e aqueles outros que, recalcados e amargurados, não só não toleram, mas querem exterminar qualquer forma de felicidade alheia.

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