Quatro HQs de Thor (e uma do Hulk) para você ler antes de ver Ragnarok
O filme, como tem se tornado tradição nos filmes da Marvel, deve misturar diversas histórias dos quadrinhos
atualizado
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O trailer de “Thor: Ragnarok” estremeceu os ânimos dos fãs de cultura pop na última semana ao quebrar o recorde de visualizações de um filme da Disney em 24 horas. Também pudera: embalado ao som da furiosa “Immigrant Song”, do Led Zeppelin (que versa sobre uma invasão viking), o trailer, mastigadinho narrativamente para não deixar dúvidas ao espectador nerd bobagento, oferece uma coqueluche de cenas de impacto: Cate Blanchett como Hela precipitando o fim do mundo; Thor, sem o martelo, exilado para um mundo alienígena; e o Hulk em uma arena de gladiadores.
A ideia, que mistura o típico humor (no limite do tacanho, diga-se) dos filmes Marvel com ação e pirotecnia nunca d’antes vistos, é dar fôlego à franquia do Deus Asgardiano (criticada por ser infantil e insossa), além de continuar a chamada “fase 3” do universo Marvel com aquela firmeza que prepara os heróis para o über-evento “Vingadores: Guerra Infinita”, que estreia em 2018. “Click bait” ou não, o trailer funcionou e uma quase genuína vontade de ver esse filme tornou-se realidade.
O Ragnarok (“crepúsculo dos deuses”) é o apocalipse da mitologia nórdica, retratado primeiramente no poema épico “Edda” (século XIII), e envolve a morte dos deuses, o lobo gigante Fenris, o universo incendiado pelo demônio Surtur, o desembainhar da espada de Odin, o fim dos nove mundos, entre outras variações. Nos quadrinhos de Thor, o Ragnarok foi alvo de examinação dos mais diversos autores. Curiosamente, como é de praxe nos “comics”, o mundo nunca acaba de verdade e o sol sempre brilha pela manhã.
Escolhi, portanto, cinco quadrinhos (quatro de Thor e um do Hulk) para você ir se preparando para o seu Ragnarok pessoal. Como trilha para embalar a leitura, eu poderia ter colocado a ópera “O Anel dos Nibelungos” (de Wagner, que fala sobre o acontecimento), mas, para ser mais kitsch, vamos com o “hair metal” do Manowar mesmo. O filme sai em outubro.
1 – “O Poderoso Thor: Ragnarok” – Stan Lee e Jack Kirby (1966): Se os quadrinhos de Thor começaram meia-boca (em 1962) no meio da histeria anticomunista, em 1966, a mitologia já estava estabelecida e podemos reconhecer nos personagens aquilo que eles se tornariam no imaginário coletivo. O texto de Stan Lee, glamoroso e épico, vivifica como nunca os contagiantes eventos do mais simples dos “Ragnaroks” da Marvel: uma besta feita pelas almas de bilhões de seres malvados, o incognoscível Mangog, é solta e seu rastro de destruição tem uma direção: Asgard.
Se o roteiro parece apenas um velho e eficiente “beat’em up”, vale o destaque para a estupenda arte de Jack Kirby. Poucos colocaram tanta loucura no olhar de Loki ou desenvolveram uma Asgard tão inventiva no design de seus prédios mágico-futuristas. Além da potência dos movimentos e a grandiosidade das “splash pages”. Infelizmente foi recolorizado na compilação da Salvat de 2016.
2 – “Thor” de Walt Simonson (1983-1986): Caso clássico de antigo fanzoca da Marvel que alcançou a glória pessoal ao escrever e desenhar os personagens que amava, Simonson é considerado o maior autor de Thor após Lee e Kirby. Sua longa fase no título inclui uma intensificação dos fatores mitológicos, tornando tudo mais mágico e delirante, além de melhor desenvolvimento psicológico dos ótimos coadjuvantes do Deus do Trovão. Entre as idiossincrasias do autor, estão fazer Thor virar um sapo e um segundo Ragnarok. Porém, sua melhor história é a da chegada de um alienígena horrendo e poderosíssimo, Bill Raio Beta (ótimo nome), que não apenas subjuga o herói como conquista (mesmo sendo asqueroso) o coração da guerreira Lady Sif. A primeira parte da saga, também recolorizada, foi publicada pela Salvat em 2015.
3 – “Loki” – Robert Rodi e Esad Ribic (2004): Esta é uma das mais brilhantes histórias na participação de Thor na Marvel (elaborada pelo também escritor e ativista gay Robert Rodi) justamente porque enfoca somente seu nêmesis: o pérfido e infame irmão adotivo Loki. Aqui, ele está velho e derrota o Deus do Trovão em combate, ganhando o direito de governar Asgard.
A minissérie é profundamente melancólica e paranoica na medida em que conta, em flashbacks, a natureza do sentimento de rejeição e a miséria de Loki em relação ao seu apolíneo (com o perdão da mistura de mitologias) irmão e aos soberbos coadjuvantes, que sempre desdenharam dele e agora devem servi-lo.
A HQ mostra um Loki obcecado e incapaz de tomar decisões políticas, preso no caráter patético de suas ambições. Ah, e a arte pintada do croata Ribic é tão deslumbrante que leva lágrimas aos olhos. Saiu no Brasil pela Panini em 2007.
4 – “Ragnarok: Especial Paraíso X” – Jim Krueger e Thomas Yeates (2003): O universo “Terra X” é um “elseworld”, ou seja, um mundo na Marvel fora da cronologia oficial. Ele retrata um futuro distópico e perverso para os heróis da Casa das Ideias. No caso deste Ragnarok, a premissa, desenvolvida pelo roteirista Jim Krueger e pelo cultuado artista Alex Ross, é das mais insanas: Asgard não existe. Trata-se de uma invenção de Odin, que na verdade é um pobre camponês viking que recebeu poderes alienígenas para dar vida e controlar suas criações. No momento em que Thor e Loki descobrem a verdade, começam uma campanha para “desmontar” as criações de Odin e pôr fim a um mundo que era, na verdade, ficcional. Ótima metáfora para a própria natureza dos heróis de papel dos quadrinhos. Saiu no Brasil pela Panini em 2013.
5 – “Planeta Hulk” – Greg Pak, Carlo Pagulayan e Aaron Lopresti (2006-2009): Ao que tudo indica, “Thor: Ragnarok” terá um toque de “Planeta Hulk”. A trama, brilhantemente escrita por Greg Pak, tornou-se cânone nas histórias do Golias Verde. O plot é gigantesco, com infinito detalhamento de culturas, tecnologias, mitologias e seres, mas obedece a um arco básico: o Hulk, muito perigoso para ser mantido na Terra, é enviado a um planeta extraterrestre por outros heróis Marvel. Ele para em um mundo ao mesmo tempo tecnológico, primitivo, escravocrata e tirânico.
Inicia-se, então, uma grande “jornada do herói” para a redenção de um Hulk enfezado e humilhado, entrecruzando-se com histórias de raças oprimidas, líderes enganados e lendas tornadas vivas. “Planeta Hulk” é quadrinho de narrativa clássica, aventura de primeira, com exímio detalhamento visual e uma apaixonante humanização do monstro de Lee e Kirby. Saiu no Brasil encadernado pela Panini em 2014.