Descubra três motivos para assistir à (boa) série “Legion”
A produção aborda a vida de um dos mais poderosos e misteriosos personagens da saga X-Men: David Haller
atualizado
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Talvez você ainda não tenha ouvido falar em “Legion”, a série baseada no universo dos X-Men que o canal FX (propriedade da Fox, que tem os direitos cinematográficos dos super-heróis mutantes) estreou em janeiro deste ano. A adaptação da história de um personagem obscuro, totalmente problemático, em oito episódios e sem a participação de Wolverine e Cia., gerou desconfiança no começo. Após três episódios no ar, no entanto, todos caíram de joelhos para a estranha jornada interior de David Haller.
Haller (ou “Legião”) foi criado, originalmente, nos quadrinhos, por ninguém menos que Chris Claremont, com a ajuda do ilustrador Bill Sienkiewicz. Claremont está no panteão dos mais engenhosos e criativos roteiristas da Marvel, e sua longa passagem pelos “X-Men” é considerada a mais virtuosa de toda a história dos mutantes nos quadrinhos.
A estreia de Legião acontece em “New Mutants” #25 (de 1985), quando Claremont criou toda uma nova geração de heróis, como ocorre de maneira cíclica na saga dos mutantes. A HQ seria o grande momento desse processo. Desde então, cada passagem sua nas revistas desencadeia um trator de eventos, como, por exemplo, a muito criticada “Era do Apocalipse”.
Tudo isso ocorre porque Legião é (INÍCIO DE SPOILER) filho do Professor Xavier e possivelmente o mutante mais poderoso do mundo (FIM DE SPOILER). Dentre seus poderes, estão fortíssimas capacidades telecinéticas, telepáticas, pirotécnicas, teletransporte e várias outras coisas que vão sendo desveladas aos poucos. Com um detalhe: ele também sofre de um grave quadro de esquizofrenia paranoide, quando sua consciência se divide em várias.
Quem tocou o projeto da série foi o showrunner e diretor Noah Hawley, que já havia feito para o FX a cultuada “Fargo”. A ideia não era replicar os muito confusos arcos em que Legião aparece nos quadrinhos, até mesmo porque dificilmente os X-Men mais populares aparecerão na série. Pelo que se vê em “Legion”, trata-se de um seriado de potencial autoral, cujo background nos quadrinhos é meramente uma ambientação de um produto mais sério que entrecruza linguagem audiovisual com as profundezas da mente humana.Eu assisti aos três primeiros episódios e acho que você deve se arriscar nesta série por três razões:
1 – É super-herói para adulto: a ideia de fazer do universo dos heróis (uma coisa naturalmente inverossímil) uma coisa “séria” sempre me foi suspeita. Nos quadrinhos, ok, temos nos anos 1980 uma série de obras que abordam esse aspecto como espécie de desdobramento final de todo um gênero. O que se seguiu, porém, foram pastiches e porcarias. No cinema, coisas hediondas como “Batman vs Superman” comprovam que o caminho deve ser trilhado com muito cuidado.
“Legion”, porém, parece ter encarnado definitivamente este tipo de abordagem. Mais indie, mais cool (a série começa tocando The Who). Sem pudores em mostrar sexo e drogas, a série alcança um novo status. Diferentemente dos programas de heróis do estúdio da Marvel (produzidos pelo Netflix), também mais carregados, na atração da FX existe uma preocupação intelectual e uma esmiuçada investigação psicológica dos personagens.
2 – A narração: em “Legion”, você raramente sabe se está na realidade presente, em um flashback, em uma memória de Haller ou em uma lembrança dentro de um pensamento de Haller. Sabe aquele filme “A origem”? Imaginem aquilo, só que bom. O seriado é extremamente preciso em embaralhar a narrativa com a função de fazer o espectador só conseguir acompanhar a série se conseguir entender seu protagonista. Neste sentido, lembra “Spider”, de Cronenberg, ou “Cidade dos Sonhos”, de David Lynch. E isso é arte.
3 – Redenção para o universo X-Men: vamos falar sério. O que foi aquele filme “X-Men: A Era do Apocalipse”? O universo dos mutantes capitaneado pela Fox até deu o pontapé inicial na era contemporânea de filmes de super-heróis (o um e o dois são bastante decentes), mas há muito isso aí degringolou para óperas intermináveis, com encontros malucos no tempo e personagens desperdiçados.
Após perderem muito espaço e credibilidade para os filme da Marvel Studios, a Fox, junto ao FX, resolveu apostar em algo realmente novo, bem mais discreto e sem o caráter carnavalesco dos filmes. Resultado: após três episódios, podemos dizer que não há na TV ou cinema de super-heróis algo que seja como “Legion”.